Nolan ganhou notoriedade por seus filmes com roteiros imaginativos e cheios de reviravoltas incríveis, além de um realismo e apelo filosófico incomuns em grandes produções. Todas essas características estão presentes em O Grande Truque, mas de forma atrapalhada e forçada. A astúcia e arrogância de Nolan acabam o traindo nesse filme, como uma faca de dois gumes.
A história narra a origem da rivalidade entre dois amigos aspirantes à ilusionistas, marcada pela diferença radical de suas personalidades. A morte da esposa de um deles durante um espetáculo dá início a um jogo de armadilhas entre os dois que resulta em lesões, sequestros, mutilações até a morte e a prisão. Durante o começo isto parece interessante, mas com o desenrolar a história fica doentia demais, a loucura e a infantilidade dos rapazes toma rumos de muito mau gosto.
De fato, a loucura e a obsessão são os pontos que conduzem a trama, sendo a rivalidade exposta não apenas através dos jovens mágicos, mas também na subtrama que envolve Tesla e Thomas Edison, figuras históricas muito interessantes. Este é o ponto alto da trama. Porém, da metade pro fim a coisa toma rumos questionáveis.
Como todo filme de Cris Nolan nos promete uma grande reviravolta esse não é diferente, porém essa reviravolta - personificada na dupla persona do personagem de Bale - é muito previsível, então o diretor aposta numa reviravolta bizarra: A máquina de clonagem de Tesla.
Essa sacada é muito boa, porém destoa escandalosamente do tom de realismo do resto do filme. É como se o Superman aparecesse num filme do Sherlock Holmes e usasse a visão de raio x pra desvendar o crime. Seria muito surreal, é inesperado demais e de mau gosto. A fim de garantir uma reviravolta no seu filme Nolan acaba traindo seu roteiro, com uma solução "tirada da cartola", com o perdão da piada.
Cheio de analogias entre ilusionismo, vida e cinema esta película peca pelo excesso de ousadia, ou melhor, por não saber conduzir isso de forma adequada. A moral da história é ambígua, fica um sentimento de injustiça pois parece que o personagem mais arrogante e culpado vence no final. Uma mensagem que ressalta o talento ao invés do trabalho árduo. Isso é válido, mas a mim não agradou.
A direção, fotografia, trilha e atuações são perfeitas, o uso de diferentes linhas de tempo é usada com maestria ímpar e, como disse, até a metade da história tudo é perfeito. Mas o final é muito estranho, nos deixando com um sentimento ruim sobre toda a experiência. Se optassem por um final mais humilde, com menos reviravoltas e mais coerência, tudo poderia ser melhor.