Logo no início de “Forrest Gump (1994)”, vemos uma pena cair perto dos sapatos de Forrest. Já aqui somos apresentados a dois símbolos importantes do filme: os pássaros e os sapatos.
Quando a mãe do garoto fala que seu pai encontra-se de férias, ele está a contorcer os pesinhos.
A influência dele à história do rei do Rock está ligada também às pernas.
O problema na coluna o concede “sapatos mágicos”. Estes são destruídos na emocionante e famosa cena em que o garoto corre livremente. É aqui onde começo a falar de Jenny: é ela quem está o motivando, proferindo a frase que aqueceu os coraçõezinhos emotivos da geração e irá aquecer os de tantas outras. Guarde esta referência a Jenny, pois já voltarei a falar dela. Na verdade seguirei na personagem, mas agora partindo para o outro símbolo valioso que mencionei: Quando Forrest vai em sua casa e ela quer escapar das mãos nojentas de seu progenitor, ela ora para que Deus a transforme em um pássaro, para que possa voar para longe. Vários pássaros aparecem perto alçando voo, Como se fosse um recado de Deus: “Tá bem”.
A oração dela será atendida como uma solução melhor do que a sugerida por ela, contudo, não demorará muito para que ela esteja querendo virar pássaro de novo, dessa vez, cogitando suicídio. Sua sapatilha aparece um pouco solta do pé, e este é o segundo momento em que nossos símbolos se abraçam (lembra-se da pena no sapato? Esse foi o primeiro, pelo menos nas minhas contas).
Nossa querida Jenny irá mais uma vez pensar em suicidar-se utilizando-se de sua incapacidade de voar. Um close up mostra seus saltos.
Vou inserir outro personagem de penetra, só para lembrar que após perder suas pernas acaba o sentido da vida para ele, que antes já havia demonstrado sua obsessão pelos pés e meias. Isso mesmo: Tenente Dan.
Agora voltemos para nosso casal favorito: quando se reencontra com o passado, Jenny joga suas sapatilhas no símbolo de sua infância atormentada. Descalça, chora no chão capturada em um belo enquadramento.
Quando finalmente Forrest e Jenny casam-se, Tenente já está com pernas novas, uma linda esposa e a felicidade de volta em seu rosto barbeado. Jenny celebra a cerimônia descalça, dessa vez não como um símbolo de tristeza, mas de reconciliação e superação do passado.
Agora vamos fechar todo este ciclo que iniciamos, e logo você sairá da fase do “nossa, que incrível! Não tinha prestado atenção nisso! Mas e aí? O que tem?”: No túmulo de sua amada, Forrest é filmado olhando para trás quando pássaros alçam voo ao horizonte enquadrado na mesma direção do túmulo . A pena mais uma vez volta ao lado de seu sapato. Alça voo á morada dos anjos e despede-se de nós.
Ciclo fechado. Leitor na mesma fase. Sigamos o esclarecimento. Os pássaros, as penas e até os anjos são símbolos da liberdade e da felicidade. É realmente feliz a pessoa que sabe para onde tem que voar, e segue seu caminho com plenitude. Jenny deseja isso, mas suas circunstâncias a afastam desse objetivo, cada vez mais sugada pelos seus dramas, ela não consegue encontrar sua identidade e ser feliz. Forrest será seu salvador, a incentivando, defendendo-a, mas sobretudo dando-lhe o maior presente que poderia dar: seu amor encarnado em um filho. Ela, por sua vez, consegue ser o pássaro que Forrest precisava. Ele é uma pessoa que segue seus objetivos com afinco e bondade, e estes objetivos são delimitados pela vontade de se entregar e ajudar as pessoas que ama, sobretudo Jenny, seu maior amor. Mesmo distante e o desprezando, ela o inspira.
Os sapatos são símbolos do caminho que se deve percorrer e dos caminhos pelos quais já se percorreu. São nosso destino. Machado de Assis já havia dado autonomia aos sapatos e pernas, como se eles decidissem nosso caminho e nosso porvir. Deixar o sapato é desistir da estrada da vida, se afundar no desnorteamento. Correr, andar, isto é estar vivo. A pena ao lado do sapato é a representação do homem que voa com os pés no chão. Que é livre em seu caminho. Podemos voar, ser pássaros para outras pessoas, estar calçados e deixar que nossas pernas nos levem para onde devem ir. É este caminho que o filme nos mostra possível e belo.
Com seus símbolos, exemplos e frases, Forrest Gump mostra o poder do cinema, o poder da vida.
Satisfeito, leitor? Espero que a paciência tenha te levado para a outra fase. A que se impressiona com a frase de efeito do final, embora eu não nutra muita esperança que tenha conseguido provocar isso.
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