“El topo” o segundo filme do cultuado diretor Chileno Alejandro Jodorowsky traz ao telespectador um western místico com surrealismo e metáforas religiosas, mas deveras interessante, muito bem dirigindo, hipnótico e cativante, mesmo com seu ar meio misterioso. Alejandro Jodorowsky separa seu roteiro em partes com alusões a trechos da bíblia, e parte dai para o pé inicial de sua jornada, isso mesmo, sua jornada, visto que o protagonista chamado El Topo é interpretado pelo próprio diretor, além disso, seu roteiro parece claramente ser muito pessoal, como se Jodorowsky quisesse contar um pouco de sua jornada, visto que o diretor é conhecido nos ciclos de ocultismo e magia além de ser um estudioso da teologia, porem, Jodorowsky leva essa demonstração ao extremo, com sangue, sexo, violência, drama e comedia. “El Topo” tem seus três atos muito bem marcados e diferentes entre si, o que ajuda no ritmo do longa, visto que filmes assim mais artísticos e subjetivos tem um ritmo complicado, “El Topo” vai na contramão disso, o filme passa rápido, pois prende a atenção do telespectador, e quando terminamos, parece que se passou 4 horas, mas não pelo ritmo lento, mas sim pelo excesso de informação e historia que assistimos em apenas duas horas de filme, esse é um grande mérito do longa, seu ritmo perfeito.
“A toupeira, animal que escava para procurar a luz, e com ela fica cega.” , Essa frase dita no início é a única ajuda intelectual que temos para compreender o filme, tal frase também explica, de maneira simples a jornada de nosso protagonista, uma jornada messiânica de um homem sagrado que faz milagres enquanto realiza a justiça e busca conhecimento através de guardiões que representam filosofias e religiões, e o mesmo trapaceia para supera-los atingindo assim o conhecimento profundo, mas não pleno que acaba por cobrar suas dividas mais tardes, além de alegorias que brincam com diversas religiões e filosofias o filme contem um teor humano e de sensibilidade muito forte, eu não tenho capacidade, talvez poucos tenham ,de explicar por completo a obra de Jodorowsky. Um filme riquíssimo de sentido e detalhes, sensações e metáforas.
Tecnicamente, Jodorowsky conduz seu western de maneira excelente, com claras inspirações em Sergio Leone, Jodorowsky não deixa nada a desejar em seu faroeste que aqui, fugindo do tradicional se passa no velho oeste mexicano e não americano, e mesmo isso nunca sendo explicito, os fãs do bom western reparam nos detalhes do faroeste criado por Jodorowsky, um faroeste que é extremamente místico e solitário, nos sentimos mal vendo aquelas belas paisagens, é como se algo estivesse errado, é a construção do cenário, o uso dos planos abertos utilizados a todos momentos para demonstrar a grandiosidade do nada, um ambiente quase inóspito e cruel ao ser humano, um ambiente feito para milagres acontecerem e segredos serem descobertos, o uso da câmera é perfeito, além do maravilhoso figurino, ótimas trilhas sonoras que são a cara dos anos 70, aquela melodia meio sádica que complementa bem a nossa jornada, além claro, das boas atuações, principalmente de Jodorowsky como “El topo” a onde percebemos que o ator tem profundo conhecimento sobre seu personagem, ele mal atua, apenas vive seu personagem, com suas sutilizas e trejeitos, vale um destaque também a Mara Lorenzio.
Alejandro Jodorowsky é um grande diretor de cinema e apaixonado pelo que faz, o diretor fez praticamente sozinho a parte técnica e artística do filme, deste figurino, trilha sonora, roteiro, atuação e mais...É fácil afirmar que “El topo” não é um filme fácil e muito menos perfeito, peca principalmente em seu excesso de subjetividade, mas mesmo assim, mesmo tirando suas subjetividade, sua historia pode ser compreendida e entendida, não é fácil, é verdade, mas é possível, “El topo” é um filme que tem paixão e sentimento, um deleite aos fãs do gênero e apreciadores de cinema, e imagino, um deleite maior aos estudiosos da religião e curiosos que queiram desvendar suas virtudes impregnadas por Alejandro Jodorowsky.