Indicado pelo Chile ao Oscar de Filme Internacional de 2025 e destaque no Festival de San Sebastián de 2024, No Lugar da Outra, dirigido por Maite Alberdi, é um drama inspirado em um caso real ocorrido nos anos 1950. A obra resgata a chocante história de María Carolina Geel, escritora que, em 1955, assassinou seu amante, Roberto Pumarino Valenzuela, em um hotel de luxo em Santiago. Após o crime, Geel bebeu o sangue da vítima, mas os motivos que a levaram a essa ação nunca foram esclarecidos. Pressionada por manifestações femininas, a autora foi liberada após cumprir mais de 500 dias de prisão.
O filme se destaca por observar essa história a partir da perspectiva de Mercedes (Elisa Zulueta), uma secretária do juiz encarregado do caso. Mercedes é uma mulher comum, presa às expectativas sociais de seu tempo. No trabalho, enfrenta o machismo e o "mansplaining" de seus colegas, enquanto em casa sofre com o comportamento abusivo de seu marido, Efraín, um fotógrafo egocêntrico, e com os filhos, que pouco a ajudam. Sua vida ganha novos contornos ao visitar o apartamento de María Carolina Geel (Francisca Lewin), onde ela descobre uma vida marcada por luxo e liberdade, completamente distinta da sua. Fascinada, Mercedes começa a se apropriar simbolicamente desse universo: veste-se com as roupas da escritora, perfuma-se com seus frascos e lê seus livros. Essa convivência imaginária transforma Mercedes, despertando nela o desejo por independência e autonomia.
No Lugar da Outra é um filme profundamente feminista, que explora a sororidade e a luta por emancipação feminina em uma época em que as mulheres eram relegadas ao silêncio e à submissão. A obra é enriquecida por uma excelente reconstituição de época, atuações memoráveis e momentos de humor refinado, que contrastam com o peso do tema. A trilha sonora também merece destaque, contribuindo para a atmosfera envolvente e melancólica do longa.
O filme não apenas narra a história de Geel, mas também oferece uma reflexão universal sobre os papéis de gênero e as estruturas opressivas que persistem até hoje. Alberdi conduz a narrativa com sensibilidade e inteligência, transformando uma tragédia histórica em um manifesto delicado pela liberdade feminina.