"Uma explosão gay": Agatha Desde Sempre tira Marvel do armário ao celebrar personagens LGBTQIAP+ sem medo
Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

Estrelada por Kathryn Hahn e Joe Locke, série mais barata do MCU chega ao fim como uma das produções mais aclamadas do estúdio.

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Atenção: este texto contém spoilers

Uma das grandes máquinas da indústria cinematográfica, o Marvel Studios tem o dinheiro, o alcance e a influência suficientes para chegar aos lugares mais improváveis. Depois de quase 20 anos levando verdadeiras multidões aos cinemas, e agora com certa atenção ao campo televisivo, é natural que as ideias minem e a fórmula comece a demonstrar falhas. Neste ponto, ao tentar fugir da estafa, a empresa, então, apostou em experimentações.

Embora a Fase 4 seja a, provavelmente, a etapa mais criticada do MCU, ela é cheia de boas histórias. De WandaVision a She-Hulk, existem narrativas que fogem do convencional e deram um fôlego a um emaranhado que tem deixado fãs para trás ao longo dos anos.

Da série que apresenta a história de como Wanda Maximoff moldou a realidade ao seu bel prazer (e dor), surgiu Agatha Desde Sempre, spin-off que desde o primeiro momento foi recebido por dizeres como “existe justificativa para a existência desse projeto?”. E a resposta veio de maneira semanal, culminando na última quarta-feira (30), com a exibição dos episódios finais.

A série mais barata da Marvel é, também, uma das mais aclamadas

Desde que foi lançada, ficou claro que Agatha Desde Sempre até tinha certas ambições estéticas, mas com a execução visual de alguns passos atrás em comparação a outras grandes produções da Marvel Television, das quais podemos citar Falcão e o Soldado Invernal e Loki, que se sobressaem pelo uso intenso de efeitos especiais e sequências ousadas. O trunfo da narrativa de bruxas da Casa das Ideias, o projeto mais barato do MCU para o Disney+, estava na dedicação aos personagens.

Com Jac Schaeffer no comando, roteirista e criadora de WandaVision, a série apresenta Agatha Harkness após os desdobramentos da produção anterior. Agora, ela deve reunir um coven para atravessar o Caminho das Bruxas e conquistar algo que lhe falta. Embora tenha tido uma jornada inconsistente, utilizando casos da semana no miolo da trama, a história ganha relevância explorando os traumas e dramas dos integrantes desse grupo.

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Isso levou a audiência a se manter fiel aos capítulos semanais e a depositar um pouco de fé no estúdio em um aspecto controverso destes 16 anos de MCU. Explico: desde a divulgação da série, o elenco tem reforçado que essa era a atração “mais gay” da Marvel.

Conhecida por certa timidez quando o assunto são personagens LGBTQIAP+, existe uma cobrança do público quanto a este ponto. Muitos ficaram receosos quanto às interações da série não avançarem, já outros consideraram as declarações apenas como veículos de queerbaiting. Por sorte, dessa vez a Marvel parece ter finalmente saído do armário.

“Uma explosão gay”

Desde o início, a orientação sexual de alguns personagens foi estabelecida de forma natural à trama. Existem citações, cenas e conversas que sugerem que a maioria do elenco principal pertence à sigla LGBTQIAP+ - das interações de Billy (Joe Locke) com o namorado ao flerte de Jennifer (Sasheer Zamata) e Alice (Ali Ahn) com Rio (Aubrey Plaza). No entanto, o grande romance queer que engata toda a temporada é a trágica história de amor entre Agatha (Hahn) e ninguém menos do que a personificação da Morte (Plaza).

O relacionamento das duas é desvendado gradualmente, com a demonstração de intimidade em "Eu Não Te Vejo, Mas Te Protejo" e "Algo Oculto e Impuro", a tensão sexual durante uma batalha em "Ache o Caminho" ou durante um beijo interrompido durante as provações. Diferente do que era esperado, o envolvimento da bruxa e da entidade cósmica não ficou apenas na superfície, mas ganhou contornos definitivos no desfecho da série.

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Agatha e Rio se amaram, mas a Morte teve que cumprir seu papel natural ao levar o filho da amada - ainda que tivesse dado tempo para que a criança vivesse por alguns anos até chegar o seu momento de partir. Ao fim, a protagonista tem um lapso de consciência e se entrega no lugar de Billy dando um beijo da Morte (literalmente) em sua antiga companheira. A cena, que não economiza em ângulo e tempo, já está entre as mais bonitas e trágicas da história recente da Marvel.

É o primeiro beijo lésbico em quase 20 anos de MCU. A sequência sucede o momento afetuoso entre Phastos (Brian Tyree Henry) e o marido em Eternos, além de outras pequenas demonstrações de amor em filmes e séries da Casa das Ideias.

Agatha Desde Sempre, enfim, se concretiza não apenas como uma das melhores atrações do estúdio - 84% de aprovação no Rotten Tomatoes e nota 7,2 no IMDb -, mas também demonstra que o medo de apresentar narrativas LGBTQIAP+ diante de uma parcela da audiência conservadora também está se esvaindo. Ainda é pouco, diante da gama de personagens que a editora dispõe, mas é um avanço conceitual, prático e bonito da vivência queer.

De fato, Aubrey Plaza não mentiu quando foi entrevista pela Variety: o encerramento da série é uma ótima e bem-vinda "explosão gay".

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