Ele escreveu quatro novelas e nenhuma delas teve a chance de ser vista novamente na TV!
Em um universo onde Walcyr Carrasco e Aguinaldo Silva parecem reinar eternamente nas tardes da Globo, com seus sucessos reprisados à exaustão no Vale a Pena Ver de Novo (foram 9 vezes!), um nome de peso ficou de fora da festa das reexibições. Estamos falando de ninguém menos que Miguel Falabella, o mestre do sarcasmo e da comédia ácida!
Mesmo com quatro novelas no currículo, o loiro – que participou de uma obra polêmica ao lado de Maitê Proença – nunca viu suas tramas retornarem à grade, nem mesmo para um "remix" em edições especiais ou no canal Viva. Mas por quê? Seria o humor afiado demais? Ou talvez as polêmicas que ele tocou com sua caneta...?
De ator a autor de novelas na globo
Falabella, para quem não lembra, começou sua carreira na teledramaturgia da Globo em 1982, atuando em Caso Verdade: Jan e Jim e na novela Sol de Verão. Como ator, também participou de vários sucessos, como Amor com Amor se Paga (1984), Selva de Pedra (1986), Mico Preto (1990) e A Viagem (1994). Em 1996, além de começar a viver Caco Antíbes em Sai de Baixo, ele estreou como autor principal de novelas na emissora.
Entre risos e tapas na cara da sociedade, Miguel escreveu histórias que foram muito além do entretenimento puro e simples. Salsa e Merengue (1996), A Lua me Disse (2005), Negócio da China (2008) e Aquele Beijo (2012) são suas quatro criações – cada uma com sua dose de humor, romance e, claro, controvérsia.
Mas o que será que deu errado? Vamos relembrar essa trajetória e tentar entender por que as obras desse gênio da televisão nunca mais deram as caras na TV aberta...
1. Salsa e Merengue (1996)
A estreia de Miguel na teledramaturgia do "plim-plim" foi um verdadeiro sucesso! Salsa e Merengue chegou com tudo, alcançando cerca de 35 pontos de audiência. Um feito e tanto para a época, não? O enredo trazia Eugênio (Marcello Antony), um jovem que descobre precisar de um transplante de medula. O problema? Ele não é filho biológico de quem pensava – e o transplante só poderia ser feito por um parente consanguíneo.
Na saga, o protagonista precisa encontrar seu irmão perdido, Valentim (Marcos Palmeira), que, em um típico dramalhão, também está perdidamente apaixonado pela mesma mulher: Madalena (Patrícia França).
Trilha sonora caribenha, abertura ao som de Ricky Martin, segredos de família e cenas quentes – como um topless exibido às 19h (sim, isso aconteceu!) – marcaram a trama. E por que a novela nunca foi reprisada? Talvez a ousadia tenha sido demais para os padrões mais conservadores da audiência vespertina...
2. A Lua me Disse (2005)
Agora, se Salsa e Merengue tinha cenas de topless, A Lua me Disse foi ainda mais longe: tocou diretamente nas feridas sociais. A novela trouxe personagens que, em vez de apenas entreter, geraram críticas por racismo. As irmãs Latoya e Whitney (Zezeh Barbosa e Mary Sheyla) foram retratadas como mulheres negras que tentavam, a todo custo, negar suas raízes.
Elas alisavam o cabelo, usavam pregadores no nariz e tentavam parecer "menos negras". Alguns ativistas da época se incomodaram com a abordagem dos papéis, alegando que suas histórias poderiam incentivar ao racismo. O Ministério Público chegou a recomendar que algumas cenas fossem cortadas – principalmente as que envolviam a personagem chamada Índia (Bumba), uma idosa indígena que vivia sendo humilhada em seu trabalho doméstico.
Em contrapartida, a novela também apresentou a transgênero Dona Roma (Miguel Magno) com muita sensibilidade, algo que poderia ter sido um marco na representatividade, mas que acabou sendo ofuscado pelas críticas (mais do que coerentes!). Com tantas polêmicas em torno de questões raciais e de gênero, talvez essa seja uma das razões para o folhetim nunca ter voltado às telinhas!
3. Negócio da China (2008)
E aí veio Negócio da China, que... bem, se formos honestos, talvez ninguém queira rever mesmo. A trama, centrada em um pen drive contendo uma fortuna roubada de um cassino chinês, foi considerada um dos maiores fracassos da faixa das 18h. Além do enredo para lá de confuso, a novela enfrentou problemas nos bastidores, como a saída repentina de Fábio Assunção, que precisou se afastar para tratar de sua dependência química.
A audiência foi despencando capítulo após capítulo, e nem o charme da protagonista Grazi Massafera foi capaz de salvar o barco. Sem contar as caracterizações caricatas e derespeitosas envolvendo pessoas asiáticas – até mesmo nas fotos promocionais da novela, em que atores puxavam os olhos de maneira claramente xenofóbica.
Em tempos de discussões sérias sobre representatividade, o retorno de Negócio da China parece mais improvável do que nunca.
4. Aquele Beijo (2012)
Por fim, a última novela de Falabella na Globo, Aquele Beijo, poderia ter sido um grande sucesso, mas acabou se perdendo no mar das produções esquecidas pela emissora. A trama era até promissora: Cláudia (Giovanna Antonelli) se vê dividida entre o amor de Vicente (Ricardo Pereira) e a inveja de sua sogra, Maruschka (Marília Pêra), a vilã da história. Um clichêzinho gostoso, certo? Pois bem...
No entanto, a audiência não engatou e, apesar do elenco estelar, o enredo não caiu nas graças do público. O que era para ser uma comédia romântica leve e divertida acabou sendo... esquecida. E sem o menor sinal de que algum dia será lembrada, pelo menos no Vale a Pena Ver de Novo!