Nem Matrix, nem Speed Racer: O filme de ficção científica mais interessante das Wachowski é um fracasso injusto de 10 anos atrás
Bruno Botelho dos Santos
-Redator | crítico
Bruno é redator e crítico do AdoroCinema, que divide seu tempo na cultura pop entre tomar susto com os mais diversos filmes de terror, assistir os clássicos do cinema ou os grandes blockbusters e enaltecer o trabalho de David Lynch e Stanley Kubrick.

Nem mesmo ter Tom Hanks e Halle Berry como protagonistas impediu que A Viagem acabasse sendo um fracasso comercial.

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As irmãs Wachowski são conhecidas por terem revolucionado o cinema de ficção científica com Matrix, obra que impactou a indústria do entretenimento como poucas conseguiram. No entanto, poucos sabem que, uma década depois do seu sucesso monumental, embarcaram num projeto ainda mais ambicioso, a adaptação de um romance de ficção científica que muitos consideraram inadaptável: A Viagem.

Um romance complexo que conquistou Bill Gates

Cloud Atlas, escrito por David Mitchell e publicado em 2004, é um romance ambicioso que na época de sua publicação cativou críticos e leitores do gênero ficção científica. A história, que se desenrola em seis linhas do tempo diferentes, explora temas tão variados quanto a busca pela liberdade, a conexão entre os indivíduos e as repercussões de nossas ações ao longo do tempo. Sua estrutura narrativa é semelhante a uma boneca russa, onde cada história se insere dentro de outra, revelando um mosaico complexo e fascinante.

Entre os admiradores do romance está Bill Gates, que o considerou um dos melhores romances que já leu. Em diversas ocasiões, Gates elogiou Cloud Atlas por sua visão profunda da humanidade e por seus enredos intrincados que desafiam o leitor a refletir sobre o impacto de nossas decisões. Para Gates, o trabalho de Mitchell oferece uma perspectiva única sobre como as vidas das pessoas estão interligadas através do tempo e do espaço, algo que ressoa especialmente no actual contexto globalizado.

Porém, a ideia de adaptar um romance tão complexo para o cinema não parecia uma tarefa fácil. A narrativa fragmentada e os saltos no tempo apresentavam um desafio que muitos consideravam impossível de superar. Mas as Wachowski, juntamente com o diretor alemão Tom Tykwer, aceitaram o desafio, determinados a levar esta história para a tela grande com toda a sua força e singularidade.

Em 2012, as irmãs Wachowski, em colaboração com Tom Tykwer, lançaram A Viagem. O filme teve um elenco impressionante que incluía Tom Hanks, Halle Berry, Hugo Weaving e Susan Sarandon, entre outros. A adaptação manteve a estrutura de seis histórias interligadas, abrangendo desde o século XIX até um futuro pós-apocalíptico. Os mesmos atores interpretam personagens diferentes em cada linha do tempo, recurso que simboliza a ideia de reencarnação e a persistência da alma ao longo dos séculos.

A produção do filme foi um esforço monumental. Com um orçamento de mais de US$ 100 milhões, A Viagem foi um dos filmes independentes mais caros da história. As Wachowski e Tykwer dirigiram as diferentes histórias simultaneamente, dividindo as filmagens em duas equipes paralelas. Esta abordagem ambiciosa foi essencial para manter a coerência narrativa e visual do filme, cada história com seu próprio tom, estilo visual e gênero cinematográfico, desde o drama histórico até à ficção científica futurista. Não foi suficiente.

Apesar da proposta ousada e da execução técnica impecável, A Viagem não conseguiu se conectar com o público em geral. Os críticos também não ficaram particularmente entusiasmados, alguns chamaram de um fracasso pretensioso, embora com o tempo tenha ganhado reputação de obra-prima incompreendida. Seu desempenho nas bilheterias foi um desastre, arrecadou apenas US$ 130 milhões, bem abaixo das expectativas.

*Conteúdo global AdoroCinema

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