Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
Apollo 18

VIAGEM ERRADA

por Roberto Cunha

Parece que a onda de filmes utilizando câmeras na mão e imagens de bitolas diferentes está longe de acabar. E sendo, ou não, A Bruxa de Blair o primeiro que fez sucesso, Apollo 18 não deve ser o último a tentar a sorte. Mas bem que poderia porque a fórmula dá claros sinais de desgaste.

A produção busca envolver o espectador naquele climão conspiratório, já que se passa na época da corrida espacial, travada entre Estados Unidos e Rússia. E um dos primeiros recursos para se obter essa "cumplicidade" são as legendas iniciais focadas no passado, mas alertando que as imagens que serão vistas só foram possíveis porque as informações saíram da obscuridade somente em 2011. Ou seja, é para as pessoas pensarem que é tudo verdade, mas será que vai ter gente caindo nessa ladainha?

A história segue e ela começa ali no final dos anos 60 / início dos 70, quando uma missão secreta americana enviou três astronautas para a Lua, sem que eles soubessem, de fato, no que estavam se envolvendo. Com esse mistério plantado, o objetivo é fazer com que cada descoberta fosse surpreendente para eles e para você. Até esse "estágio", a missão tava funcionando bem e poderia gerar envolvimento até o fim, mas fracassou.

Visualmente, existem as limitações das câmeras, mas alguns momentos ficaram interessantes, como as cenas iniciais com visual de reais e envelhecidas. E o uso de rostos desconhecidos do grande público, Warren Christie (Traição Mortal) e Lloyd Owen (Miss Potter), ajudam bastante para criar essa "realidade". Mas a verdade mesmo é que as constantes sequências com imagens de baixa qualidade cansam, assim como as inúmeras interferências nelas para aumentar a tensão. O resultado está longe do bom [REC] e bem próximo do fraco Atividade Paranormal. Só muda o local.

Não existe inovação no roteiro, os sustos são poucos, previsíveis e essa coisa de situações estranhas só acontecerem - quase sempre - quando as pessoas estão dormindo chega a ser infantil. Parece até aquela história de pai que não gosta da filha chegando tarde em casa, como se "as coisas" que tanto o preocupam só acontecessem a noite. É fato que o elenco reduzido é um complicador, mas cadê a criatividade para driblar essa limitação e não deixar as ideias flutuando na gravidade zero?

Outro ponto negativo são os muitos diálogos travados através de rádio e comunicadores. O orçamento de US$ 5 milhões (baixo para os padrões americanos) não permitiu também grandes efeitos especiais. O clima claustrofóbico e de isolamento até funciona, mas o flerte com zumbis e ácaros lunares poderia ter sido mais bem explorado, dando a nítida sensação que ficaram no meio do caminho.

Sobre as licenças criativas, o destaque vai para a possibilidade de um americano sair mexendo numa nave russa sem saber o idioma. Já a providencial ausência de lanterna somente na hora de explorar uma cratera sinistra, é melhor nem comentar. Assim, os fãs da já citada franquia "paranormal" podem até curtir, mas é provável que boa parte do público, principalmente os mais exigentes, tenham a sensação de que embarcaram numa viagem errada.