Um foi bom. Dois já é demais.
por Roberto CunhaO que esperar de uma sequência que demorou exatos 14 anos para chegar nas salas escuras? Muito? Pouco? Nada? Quando Instinto Selvagem 2 começa, a resposta vem muito rápida e - pode apostar - não é por instinto. Uma luz fraca no canto da tela vai num crescendo, simulando, para os mais observadores, a chegada do clímax em uma transa. Logo em seguida descobre-se que aquela "luz" era a faixa divisória da rua passando e no volante de um super esportivo aparece Sharon Stone.
E como a moça (?) já virou PhD em orgasmos rápidos no cinema, na seqüência você a vê fazer do dedo do seu carona um "brinquedo" muito safadinho. Aí já é tarde demais. E sem querer fazer trocadilho, você acaba descobrindo que estão querendo é gozar... com a tua cara. Mas isso é só o começo. Em menos de dez minutos de filme você já tem protagonista e antagonista trocando olhares. E o tal psiquiatra interpretado por um razoável David Morrissey contratado para fazer a avaliação psicológica, desconfia que a escritora Catherine Tramell (Stone) possa ter "tramado" um assassinato.
La Stone continua uma mulher bonita e sensual. E com tanta maquiagem e luz o resultado ainda é positivo. Mas entre os muitos pontos fracos do filme o excesso de olhares e sussurros da personagem da atriz soa falso e não convence o espectador. Se você está ali por conta da cruzada de pernas mais famosa do cinema, esqueça. A cena, na época feita por acaso, foi substituída por uma sentada na cadeira com o encosto cobrindo a visão e dando asas à imaginação. Sexy, mas vulgar e menos selvagem.
No roteiro temos grandes escorregões dentro da lógica. O fato de o respeitado psiquiatra aceitar facilmente a suspeita como paciente foi ridículo. Mais grave foi ouvir a responsável por sua supervisão (Charlote Rampling, num mini-papel) mostrar espanto pela postura de Tramell durante uma sessão com a seguinte expressão: "Que Lacaniana!?" Isso revela, no mínimo, que o pessoal do roteiro andou se informando sobre o tema, mas esqueceu de um detalhe muito importante: um profissional jamais aceitaria este tipo de paciente. Quanto mais ficar ligando e visitando o mesmo.
O picador de gelo, responsável por momentos de tensão no original, ainda tem espaço, mas totalmente congelado nesta seqüência. A viradinha de cabeça de uma das vítimas na hora da morte foi digna de comédia. E é curioso ver que, em plena época anti-tabagista, o cigarro tenha sido tão glamourizado. Se a intenção era pegar carona nos clássicos do cinema noir, ficou devendo e muito. Tramell estava mais para quarentona ansiosa com fixação oral do que personagem emblemático.
Mesmo assim, o desenrolar da trama é até aceitável se você não espera muito dela. Talvez o ponto mais interessante tenha sido um momento que insinuava mais uma cena de sexo com muitos gemidos, mas era alguém morrendo. Outro ponto interessante ficou a cargo de um personagem coadjuvante: o inspetor. Desconhecido do grande público, o ator David Thewlis foi responsável por raros momentos de diálogo inspirado e com toques de humor em seus interrogatórios. Agora é com você. Siga seus instintos. E lembre-se: vem aí um terceiro episódio. E poderá ser dirigido por Sharon Stone!? Uau!! Ou seria miauuuu?