Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
The Corporation

O Capitalismo e suas Mudanças

por Francisco Russo

Hora do jantar. A clássica cena da família reunida, degustando os pratos servidos e trocando informações sobre como foi o dia de cada um de seus integrantes. Além das pessoas envolvidas, há mais gente na mesa. Na verdade, bem mais gente. Kellogg’s, Maggi, Knorr, Coca-Cola, Ades, Nestlé e tantos outros. Marcas que, devido a sua abrangência mundial, estão em momentos deste tipo nos mais diversos países. E que, mesmo sem existirem fisicamente, não deixam de ser pessoas. Jurídicas, neste caso.

O documentário The Corporation aborda o impacto das corporações no dia a dia das pessoas, independente do país em que elas vivam. A História – com H maiúsculo mesmo – começa quando as corporações conseguem, na justiça dos Estados Unidos, adquirir o direito de ser uma pessoa, baseando-se na própria Constituição do país. Por não existir fisicamente, ganhou um “corpo jurídico”. Desta forma poderia tomar atitudes típicas de qualquer pessoa, como comprar e vender empresas, contratar e demitir pessoas e outros tantos afazeres. Entretanto, as corporações são pessoas especiais, que não possuem sentimentos nem noção de ética. Seu objetivo é lucrar, o máximo possível, de forma que seus acionistas estejam sempre felizes e com dinheiro no bolso.

A grande questão por trás das corporações e, na verdade, por trás de todo o modelo capitalista é até que ponto se deve ir em busca do lucro máximo. O filme apresenta diversos casos de abusos, das fábricas que pagam uma ninharia como salário e vendem os produtos lá produzidos por quantias muito maiores até a “compra” do direito de explorar bens naturais, como a água. Nos casos citados, e em tantos outros exibidos ao longo do filme, há questões éticas e morais deixadas de lado, superadas pela oportunidade de lucrar cada vez mais.

The Corporation busca conscientizar o espectador sobre o que acontece no meio econômico global, denunciando abusos e conclamando para o combate. Não através de quebra de fábricas ou algum outro meio violento, mas na simples cobrança das pessoas às empresas, deixando de consumir determinadas marcas até que suas respectivas corporações assumam uma postura mais humanitária. Uma atitude louvável, com certeza, mas que esquece que, por trás de uma corporação, há pessoas, de carne e osso, de perfil parecido com as que protestam.

De certa forma, o perfil sem emoções gerado pela pessoa jurídica atende, de forma precisa, os interesses do capitalismo. E, por que não dizer, também do ser humano. Desde os primórdios o homem explora seus semelhantes mais fracos, absorvendo deles o máximo sem a menor piedade. Assim foi com o processo de colonização, em qualquer parte do planeta, e com a escravidão imposta às pessoas negras. Ou seja, a exploração faz parte da essência humana. Por que não estaria presente no âmbito corporativo e econômico, se ele foi criado e desenvolvido por... humanos?

A recente mudança de perfil em diversas empresas, apostando em atitudes a favor do meio ambiente e evitando explorações, pode aparentemente se tratar de uma maior conscientização sobre a sociedade como um todo, mas na verdade é mais um meio de obter lucro máximo. A partir do momento que parte dos consumidores se dispôs a protestar contra as corporações, e boicotar seus produtos, isto passou a manchar seu currículo. Para evitar isto, e recuperar o consumidor perdido, foi necessária uma mudança de postura. É o capitalismo, mais uma vez, se mexendo para manter-se de pé. Nada além disto.