QUEM É ELE?
por Roberto CunhaAs primeiras cenas do filme (trailer também) não deixam dúvida de que é pura ficção. O impacto das cenas surreais se mistura com o "voar muito louco" do personagem. A idéia é deixar você diante do incomum. Na verdade, Hancock é quase um anti-herói. O personagem título, interpretado por Will Smith, combate o crime, bebe como um gambá, fede como um porco e se veste mal demais. Sem contar que as boas ações que pratica sempre resultam em problemas. Ou seja, o diferencial desse "novo" herói é o seu jeito tosco de ser e o que isso traz de ruim para a sociedade. Esse ponto é bem interessante e poderia ser um diferencial e tanto. Basta usar a memória e constatar que a maioria dos heróis também causa estragos, mas não se toca nesse assunto. A história sempre segue em frente.
Infelizmente, esse conflito marcou o começo da história, mas sumiu no roteiro. Esse é um ponto fraco, mas que o grande público certamente não notará: a falta de uma história central. Hancock transita entre vários gêneros. Tem aventura, suspense, drama, comédia tradicional, nonsense, etc. São histórias dentro de histórias e todas meio que sem fim. Toda essa confusão explica porque o roteiro ficou por mais de 10 anos rolando por Hollywood. Contudo, a história por incrível que pareça, face os elementos citados, é quase pueril. Imagine alguém ter que aprender a ser herói e a falar com as pessoas. É o que acontece. E cabe a Jason Bateman (Juno) fazer o papel de professor e "escada" para as tiradas engraçadinhas do herói. Bateman já tinha trabalhado antes com o diretor Peter Berg (muito atuante em TV) em O Reino. Preconceitos a parte, Hancock faz rir quando confrontado com heróis tradicionais de revistas e os chama de viado, super homo, etc. Mas soa muito estranho um herói infanto-juvenil que bebe porque passa por uma crise existencial. Definitivamente, não é um exemplo legal. E não faria falta no roteiro. E ainda poderíamos ser poupados de ver aquela boquinha ridícula que Smith fez para caracterizar o pileque.
As cenas de ação e efeitos especiais são legais. A seqüência do assalto foi especial, assim como o diálogo curto com a policial: "A senhora me permite tocá-la?" Foi hilário. Fazer a barba e escrever na parede, usando as unhas, foi um detalhe interessante. O mesmo não se pode dizer da cabeça de um bandido no derrière do outro. Humor grotesco e desnecessário. Destaque para a versatilidade de Charlize Theron, que se saiu bem neste estilo de filme e também para as licenças poéticas dos óculos e roupas que não estragam. Mas o chapéu de Indiana Jones continua ganhando. O conceito de que heróis quando se amam, tornam-se mortais é bem curioso. Se for um mote para uma nova seqüência, só o tempo e o dinheiro dirão. Não saia antes dos créditos finais porque logo no início tem uma piadinha de fechamento. E pense duas vezes antes de chamar alguém de IDIOTA. (risos)