Rocky 3 - O Desafio Supremo: Crítica AdoroCinema

Depois do sucesso apenas modesto de Rocky II - A Revanche (1979), o diretor e roteirista Sylvester Stallone decidiu trazer elementos novos à franquia, neste episódio que foi concebido originalmente como o fim de uma trilogia. Nas produções anteriores, Rocky não era um profissional, mas acabava combatendo o talentoso Apollo Creed (Carl Weathers) por um golpe do acaso. Agora, dez anos após a vitória, o protagonista se encontra devidamente inserido no mercado do esporte: ele atua em comerciais de televisão, mora em uma casa luxuosa com a esposa (Talia Shire), já defendeu o título diversas vezes. Apollo está aposentado, e cabe a Rocky combater outro lutador negro, arrogante e encrenqueiro: Clubber Lang (Mr. T).

Outra grande novidade na estrutura da franquia é a multiplicação das lutas: o espectador não precisa mais esperar pelo clímax, no terço final da história, para ver o herói em atividade. Um primeiro combate ocorre desde o começo, em uma cena rápida, um tanto cômica. A famosa sequência de treinamento, em elipses, também é mostrada mais de uma vez. Outra luta, rápida e filmada sem muito vigor, ocorre antes do esperado confronto entre Clubber e Rocky. O segundo filme aumentava a intensidade dos sentimentos, mas o terceiro prefere multiplicar a ação, transformando-se em uma história de luta como tantas outras.

O problema desta escolha são as concessões efetuadas por Stallone como roteirista. Antes, o desenvolvimento de cada personagem parecia plausível, mas em O Desafio Supremo, efetua-se transformações bruscas: Apollo torna-se amigo e treinador de Rocky sem justificativa para uma mudança tão grande, a tímida esposa Adrian agora pronuncia dezenas de frases de inspiração e grita com o marido pela casa, Paulie (Burt Young) praticamente não possui função narrativa. O próprio Rocky não fala mais de modo embrutecido, e adquiriu um cinismo que não possuía antes. “A pior coisa do mundo aconteceu com você: você se tornou civilizado” afirma, com razão, um personagem.

Mas o pior personagem, sem dúvida, é Clubber. Construído como uma espécie de homem-animal, urrando em cada cena, ele torna-se o vilão clássico, o homem desprovido de complexidade. Sem um mínimo de talento dramático, Mr. T. grita e bufa à exaustão, mas não possui nenhuma grande motivação para sua vilania (como era o caso da soberba e do talento midiático de Apollo nos filmes anteriores). Pela primeira vez, o único objetivo de Rocky é vencer a luta, algo que empobrece a franquia. Os filmes de 1976 e 1979 tiveram êxito na tarefa de fazer do esporte uma metáfora eficaz dos Estados Unidos, mas neste caso, o esporte nada mais é do que o palco clássico para a luta do bem contra o mal.

A estética de Rocky III consegue ser ainda mais carregada em zooms, em câmeras lentas e efeitos cafonas de som e trilha sonora. Para retratar a dor da morte de um personagem importante, Stallone usa todos os recursos dignos de um folhetim barato. Com o rebaixamento da sofisticação narrativa, a franquia conquistou um público maior, atingindo a segunda melhor bilheteria da saga (muito perto do recorde de Rocky IV). No entanto, em termos cinematográficos, este constitui o ponto mais fraco da saga, que abandonou a riqueza de seus personagens e a bela melancolia de Rocky, um Lutador para oferecer apenas a figura genérica do vencedor.