A continuação de Divertida Mente traz um embate entre Alegria e Ansiedade que vai abalar o seu emocional
por Katiúscia ViannaDivertida Mente é um dos filmes mais amados da Pixar. E existem bons motivos para isso: sua história profunda, porém emocionante, com personagens carismáticos que refletem as confusões das nossas próprias mentes. É singelo e divertido para crianças, ao mesmo tempo que traz uma mensagem impactante para os adultos. Além de ter sido um sucesso de público e crítica, é claro. Então, é até surpreendente perceber que demoraram 9 anos para lançar uma sequência cercada de altas expectativas. Mas será que a Pixar consegue repetir essa magia enquanto a empresa passa por uma fase difícil?
Qual é a história de Divertida Mente 2?
Em Divertida Mente 2, novamente viajamos para a mente de Riley, que agora tem 13 anos e se tornou uma adolescente. Alegria aprendeu a dividir melhor as funções ao lado de seus amigos: Tristeza, Nojinho, Raiva e Medo. Ela parece ter o controle da situação, mas tudo se transforma em caos novamente quando novas emoções surgem na sala de comando. Liderando o grupo de novatos está a Ansiedade, uma figura laranja e doidinha, determinada a planejar o futuro de Riley, mas sempre pensando no lado negativo das coisas.
Junto dela temos Inveja (uma emoção bem pequenina, mas cheia de energia e vontades), Tédio (que encarna o lado diva e blasé de qualquer adolescente) e Vergonha - um ser grande mas muito quieto e tímido. Quando Ansiedade e Alegria entram em conflito, as emoções antigas acabam sendo expulsas e precisam encontrar um jeito de restaurar as convicções e o “senso de si mesmo” de Riley. Por sua vez, Ansiedade e companhia tentam navegar pelas crises da adolescência, o que pode ter consequências muito graves.
Ansiedade x Alegria
Vou ser sincera: Divertida Mente é minha animação favorita e está no top 5 preferidos da vida. Então, a notícia de uma sequência veio com um gosto agridoce: por mais que eu estivesse animada em rever Alegria, Tristeza e o resto das emoções; também surgia um medo da continuação estragar o legado da obra original. Felizmente, posso dizer que Divertida Mente 2 pode não ser tão perfeito como o primeiro, mas é uma continuação digna dessa história.
E isso é graças ao mergulho profundo que o novo longa dirigido por Kelsey Mann (que substituiu Pete Docter, o atual chefão da Pixar). Afinal, lidar com emoções mais “simplistas” já era complicado, mas quando você entra na adolescência, tudo é vivido com mais paixão. Para demonstrar que suas sensibilidades estão mais afloradas, com apenas o toque de um botão do controle modificado na sala de comando, as reações de Riley ficam mais violentas e energéticas - para a surpresa de Raiva e Nojinho, por exemplo.
E então temos Ansiedade, que é quase uma antagonista, mas não é bem assim. Todos os moradores do mundo cada vez mais complexo que vivemos vão se identificar com os pensamentos da nova personagem. Antecipar todas as coisas que podem dar errado? Temos aqui. Porém, mais uma vez, aprendemos que Riley precisa sentir todas as suas emoções, inclusive as mais complicadas. Faz parte de seu amadurecimento. O problema é quando uma delas assume o controle de maneira obsessiva. Mas não é exatamente assim que nossa mente funciona num ataque de pânico?
Divertida Mente 2 tem alguns probleminhas, mas quem nunca?
Nada é simples no universo de Divertida Mente. Tudo tem camadas. Alegria também tem seus momentos de frustração, Ansiedade tem boas intenções, mas nem tudo é perfeito nesse mundo. Por um lado, temos momentos bem emocionantes em relação à crises de ansiedade ou uma literal onda de memórias negativas que te afoga. Mas não tem o mesmo impacto brutal (ou trauma mesmo) que Bing Bong criou no primeiro filme.
Nessa altura do campeonato, você já espera que algo dê errado em algum momento. Afinal, todo filme tem um clímax. O que não ajuda é que a base de Divertida Mente 2 segue os mesmos passos do filme anterior: Alegria discorda com alguém, sai da sala de controle e precisa dar um jeito de voltar para lá, antes que emoções perdidas estraguem a vida de Riley.
Divertida Mente (o primeiro) tinha mais tempo de brincar com as metáforas dentro da nossa mente. Aqui passamos o tempo nos dividindo entre 9 emoções: não é tarefa fácil! E, por mais que tenha diversas referências ao filme original, o resultado não é tão perfeito. Nessa história, fica o desejo que Inveja e Vergonha tivessem mais independência e/ou espaço de tela. Reclamação essa que não pode ser feita de Ansiedade (talvez o maior foco de desenvolvimento do filme junto com Alegria) e Tédio (simplesmente porque ela rouba a cena em todos os momentos: vai ser um ícone dos memes, certamente).
Vale a pena assistir Divertida Mente 2?
Ao mesmo tempo, eu não posso negar a emoção que senti no terceiro ato do filme. O retrato da eterna “briga” entre Ansiedade e Alegria é algo que qualquer pessoa pode se identificar. A minha única dúvida é se as crianças mais pequenas vão entender a mensagem do filme. A história é contada de forma brilhante, mas talvez passe direto pelas mentes interessadas nas cores e nas piadas com um personagem que se assemelha à Dora, a Aventureira.
Na cabine de imprensa, o filme era dublado, então também tive a chance de conferir como as vozes brasileiras também trazem algo especial para essa aventura. Novamente, Miá Mello (Alegria), Katiuscia Canoro (Tristeza), Dani Calabresa (Nojinho), Léo Jaime (Raiva) e Otaviano Costa (Medo) brilham em seus personagens, enquanto são muito bem-vindas as adições de Tatá Werneck como Ansiedade, Eli Ferreira como Tédio, Gaby Milani como Inveja e Fernando Mendonça como Vergonha.
No final das contas, Divertida Mente 2 é uma alegria (com o perdão do trocadilho) de rever esses personagens tão amados. Com um roteiro afiado e boas piadas, cumpre a missão de ser um filme divertido que também promete ser uma jornada emocional sobre a nossa própria consciência. Se o primeiro filme nos ensinou que está tudo bem em se sentir triste, o segundo mostra que devemos abraçar todas as nossas facetas. A história amadureceu e abriu espaço para conversas mais complexas, mesmo que não seja completamente perfeita. Mas, olha só, ninguém é perfeito. E é justamente isso que nos torna perfeitos.