Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Venom: A Última Rodada

Eddie, de Tom Hardy, e seu simbiótico continuam icônicos, mesmo que Venom 3 não acrescente muita coisa à trilogia

por Nathalia Jesus

Com Venom 3: A Última Rodada, a saga do anti-herói simbiótico protagonizado por Tom Hardy chega ao seu desfecho e, no geral, a expectativa costuma ser alta em finais de trilogias — pelo menos para quem ainda se importa com a franquia da Sony. O longa-metragem veio para encerrar esta saga marcada por uma mistura de humor, ação e horror, mas acabou deixando a impressão de que, talvez, o melhor já tenha passado.

Neste terceiro capítulo, as ambições narrativas parecem se perder em um labirinto de clichês e desenvolvimento superficial. Mesmo assim, Eddie e Venom continuam fazendo suas horas valerem a pena, ainda que o mundo ao redor deles não seja realmente atrativo.

A história começa com Eddie Brock (Tom Hardy) em uma saia justa após a breve viagem dele e de sua dupla ao Universo Cinematográfico Marvel em Venom: Tempo de Carnificina e sua passagem na cena pós-crédito de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Agora, o protagonista está sendo procurado pela polícia, acusado pelo assassinato de Patrick Mulligan (Stephen Graham).

Como se não bastasse, o criador de Venom, Knull, deseja se vingar dos simbiontes e acabar com toda a humanidade — mas, para isso, precisa da fusão de Eddie e Venom. Fugindo de deus e o mundo, a saga da divertida dupla tende à solidão, mas alguns elementos são adicionados nessa jornada, incluindo experimentos na tão famosa Área 51 (conhecida por manter alienígenas) e uma família hippie que sonha em conhecer seres extraterrestres.

A dupla Venom e Eddie não falha em entreter e é o que segura o filme

A interação do protagonista com seu simbiótico é tão divertida que, para a roteirista Kelly Marcel, isso parece bastar. Só que uma dupla carismática liderando a história e, às vezes, nos distraindo de algum acontecimento dito importante, não é o suficiente para quem assiste — essa é a sensação que fica no final do filme. Falta algo, embora a risada seja garantida ao longo de Venom 3.

A química entre Hardy e o simbiótico continua a ser um dos pontos altos da franquia. Os momentos de humor e a interação entre Eddie e Venom oferecem alguns destaques ao filme, proporcionando alívios cômicos que contrastam com o tom mais sombrio da narrativa. Entretanto, mesmo essa química se torna costumeira demais, perdendo um pouco do frescor que a caracterizou nos filmes anteriores.

Um dos grandes problemas, entre tantos, é a construção do vilão Knull, que carece de motivação convincente. O antagonista, apresentado como a maior ameaça já enfrentada, se revela uma caricatura que não faz jus à complexidade dos vilões que a Marvel, em suas melhores fases, soube criar.

A falta de um desenvolvimento mais robusto para o vilão compromete não apenas a tensão da narrativa, mas também a urgência das ações de Eddie e Venom. A ideia de um confronto épico se dissolve em diálogos fracos e uma trama que divide importância entre diversos eventos salpicados aqui e ali, mas que, em nenhum momento, se mostram realmente relevantes.

Visualmente, Venom 3: A Última Rodada mantém o padrão dos filmes anteriores, com efeitos especiais que conseguem capturar a essência grotesca e, ao mesmo tempo, fascinante do simbiótico. As cenas de luta são coreografadas de forma dinâmica, mas, em várias ocasiões, a ação rápida pode confundir o espectador.

Outro aspecto que merece destaque é a trilha sonora, que, embora efetiva em criar atmosferas, muitas vezes parece em desacordo com o que se passa na tela. As escolhas musicais, por vezes, tiram o peso das cenas dramáticas, fazendo com que certos momentos cruciais pareçam mais leves do que deveriam. A falta de sinergia entre a música e a narrativa diminui o impacto emocional que o filme poderia ter alcançado — dito isto, jamais me verão reclamar da cena do Venom dançando "Dancing Queen" enquanto um vilão praticamente imbatível vinha em sua direção. Absolute cinema!

Um filme que não acrescenta muito à trilogia

Venom 3: A Última Rodada também tenta abordar questões mais amplas, como solidão e a capacidade de enxergar o extraordinário em uma vida comum, mas essas mensagens acabam sendo tratadas de forma superficial em meio a tantos pepinos a serem resolvidos pela dupla que, aqui, está largada à própria sorte. A intenção de explorar tais temas é boa, mas a execução falha em torná-las impactantes. A tentativa de dar um peso filosófico à história acaba se perdendo em meio a uma estrutura de filme de ação que nem sempre nos dá muito tempo para respirar.

Mesmo assim, o ritmo do filme, por sua vez, é uma montanha-russa que oscila entre momentos de pausa e sequências frenéticas. Essa falta de um fluxo coeso pode deixar o público confuso, sem saber se está assistindo a uma comédia de ação ou a uma narrativa dramática mais séria. Embora a proposta de brincar com diferentes gêneros seja interessante, a execução parece ter falhado em encontrar um tom harmonioso.

A sensação é de que tudo e nada está acontecendo — e esse “nada” não é algo comum em um final digno de trilogia. O filme não denuncia tão evidentemente a urgência de seus acontecimentos e passa a sensação de que, mesmo que tudo dê errado, as coisas vão se resolver. De certa forma, é o que esperamos ver em uma história derivada dos quadrinhos. Os “mocinhos” vão encontrar um jeito de fazer com que tudo fique bem, sabemos disso, mas que tal fingir que não?

Será que a história de Eddie e Venom vai ficar por isso mesmo?

Por fim, Venom 3: A Última Rodada é um filme que, apesar de suas falhas, ainda consegue entreter em vários momentos. A interação entre Eddie e Venom, o alívio cômico dos novos personagens que roubam a cena, e algumas sequências de ação memoráveis proporcionam um entretenimento razoável, mas a narrativa inconsistente e a falta de desenvolvimento dos personagens deixam a sensação de que a franquia poderia ter sido muito mais.

Com isso, A Última Rodada pode ser um fechamento, mas não é a despedida grandiosa que muitos esperavam. Se há um aprendizado aqui, é que às vezes é melhor saber a hora de parar do que insistir em estender uma história que já não tem mais para onde ir.