Drama e comédia formam combinação perfeita com clima dos anos 70 e trabalho brilhante de Paul Giamatti
por Bruno Botelho dos SantosO cinema inegavelmente tem um certo fascínio por personagens desajustados, que sempre renderam histórias interessantes e complexas de pessoas que não se encaixam ou são deixadas de lado na sociedade, solitárias, por algum motivo. É com isso que o diretor Alexander Payne faz uma verdadeira carta de amor para eles em Os Rejeitados.
Os Rejeitados acompanha Paul Hunham (Paul Giamatti) um professor mal-humorado de uma prestigiada escola nos Estados Unidos. Forçado a permanecer no campus para cuidar do grupo de alunos que não tem para onde ir durante as férias de Natal, ele acaba criando um vínculo improvável com um deles – um encrenqueiro magoado e muito inteligente, Angus Tully (Dominic Sessa) – e com a cozinheira-chefe da escola, Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph), que acaba de perder um filho no Vietnã.
Os Rejeitados é um resgate nostálgico dos anos 70
Alexander Payne não é nenhum novato. Muito pelo contrário, já que o diretor foi indicado três vezes ao Oscar como melhor diretor e ganhou duas vezes por roteiro adaptado na premiação, com Sideways - Entre Umas e Outras (2004) e Os Descendentes (2011). Entre as características de sua filmografia, estão o humor sarcástico aliado com críticas sociais, assim como o cuidado no desenvolvimento de seus personagens e a relação entre eles. Por sinal, este último aspecto é, sem dúvidas, o que mais chama atenção em seu novo filme, Os Rejeitados.
O roteiro desta vez não foi escrito por Alexander Payne, mas por David Hemingson, e foca em três personagens completamente diferentes que, cada um por seu motivo particular, precisou ficar na escola durante o período de recesso no fim do ano. Este é o cenário perfeito para uma comédia dramática, algo que o diretor explora com maestria narrativamente.
Logo de cara, fica evidente a intenção de Payne em resgatar tanto a estética quanto a narrativa de produções lançadas nos anos 70. Isso faz total sentido, já que o filme se passa nesta década, então a produção aproveita dessa nostalgia para conduzir a dinâmica entre seus personagens – reforçado ainda mais pela ambientação friorenta da Nova Inglaterra.
Alexander Payne sabe aproveitar muito bem comicamente o conflito entre as diferentes personalidades dos protagonistas, assim como a situação inusitada de convivência que eles estão inseridos. Mas, ao mesmo tempo, o filme nunca deixa de abordar as dores que esses personagens estão passando, focando totalmente nas relações humanas e problemas da vida.
Os Rejeitados lida com as dores dos personagens e aquece o coração pela sensibilidade
A melancolia toma conta de Os Rejeitados. O período de final de ano, marcado pelo Natal e Ano Novo, para muitas pessoas é um momento de celebração e reencontro com amigos e familiares. Só que os personagens que acompanhamos no filme estão sozinhos nesta época, carregando uma carga emocional evidente desde o começo.
Uma questão sociopolítica importante que serve como pano de fundo no filme é a Guerra do Vietnã, uma mancha na história dos Estados Unidos que levou à morte de milhares de jovens – incluindo o filho da cozinheira-chefe da escola, Mary Lamb. Por isso, o sentimento de desolação e frustração é marcante em determinados momentos, como uma falta de esperança no mundo e na humanidade, característica que é facilmente perceptível no protagonista interpretado por Paul Giamatti.
Mesmo assim, Os Rejeitados termina com um olhar mais otimista da humanidade, no desenvolvimento da relação dos personagens. O filme mostra que nossas relações com as pessoas podem mudar ou acrescentar algo positivo em nossa vida, por mais diferentes que elas sejam. O roteiro de David Hemingson e a direção de Alexander Payne constroem a relação entre os personagens de forma tão natural e sensível que aquece o coração de quem assiste, conforme eles aprendem mais uns sobre os outros. Eles passam a compartilhar seus sentimentos e dores para lidar com a solidão e tristeza que os abalam.
Paul Giamatti rouba a cena em Os Rejeitados, uma das melhores atuações de sua carreira
Paul Giamatti rouba a cena como Paul Hunham, em uma das melhores atuações da temporada. O ator indicado ao Oscar por A Luta Pela Esperança (2005), que já havia trabalhado anteriormente com Alexander Payne em Sideways, consegue passar perfeitamente as nuances do personagem, que se apresenta como um professor rígido e conservador, apesar de seu senso de humor sarcástico, mas que aos poucos também revela um lado mais sensível, que se preocupa com as pessoas.
Mesmo sendo um novato no mundo da atuação, Dominic Sessa surpreende bastante no papel de Angus Tully, um estudante rebelde e problemático que é deixado de lado pela mãe, e conquista pelo carisma. Por fim, e não menos importante, temos Da'Vine Joy Randolph como a cozinheira-chefe da escola Mary Lamb, que consegue explorar minuciosamente a dor de uma personagem de luto com a perda do filho na guerra.
No final das contas, Os Rejeitados conquista pela sutileza e profundidade que apresenta seus três personagens principais – Paul Hunham, Angus Tully e Mary Lamb – e, principalmente, como desenvolve naturalmente a relação entre eles. Mesmo com todos os conflitos e diferenças, eles lidam com suas dores internas e solidão, encontrando conforto na humanidade e no afeto ao conhecer outras visões de mundo..
Vale a pena assistir Os Rejeitados?
Se você está querendo assistir um filme para dar um quentinho no coração, Os Rejeitados é uma opção perfeita para dar risadas gostosas e se emocionar. O diretor Alexander Payne equilibra perfeitamente comédia, nostalgia e melancolia enquanto desenvolve naturalmente a relação entre personagens muito diferentes que criam um vínculo improvável para lidar com solidão e dores pessoais durante as férias de Natal.
Liderado por uma atuação arrebatadora de Paul Giamatti, Os Rejeitados tem tudo para se tornar eventualmente um clássico de Natal, principalmente pela sensibilidade e profundidade que toca na humanidade do relacionamento entre seus protagonistas.