Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
O Besouro Verde

Filme de uma Piada Só

por Francisco Russo

Quem não conhece alguma história de super-herói? Seja daqueles consagrados nos quadrinhos ou de outros vindos das mais diversas mídias, o universo ao qual pertencem não é tão diferente assim. Cada um com suas peculiaridades, é claro, mas há alguns elementos em comum. O idealismo por trás dos atos heróicos, a coesão entre os parceiros e o ego deixado de lado são alguns deles. O Besouro Verde vem justamente para contradizer tudo isso. Trata-se de uma sátira ao universo heróico, jogando por terra cada estereótipo existente. Se por um lado gera alguns bons momentos de início, por outro faz com que o filme se prenda apenas a isto. Como se fosse o único trunfo disponível para conquistar a atenção do público.

Tudo começa com a morte do respeitado dono do principal jornal local. Seu filho Britt (Seth Rogen, no clima do personagem) assume o império do pai, mas não está muito interessado nele. Britt quer mais é farrear e curtir a vida. Um dia, revoltado por seu capuccino não estar do jeito que gosta - quer algo mais fútil do que isto? -, descobre a existência de Kato (Jay Chou, convincente). Inventor de máquinas, mestre em artes marciais, exímio motorista, pianista... tudo isto escondido na pele de um lavador de carros. Daí para a criação do Besouro Verde é um pulo. Kato coloca alguns de seus brinquedos num dos carros do pai de Britt, eles usam máscaras e vão à luta. Tudo na verdade é uma grande farra - e jamais deixa de ser, mesmo quando a nova "profissão" se torna mais séria.

Esta falta de compromisso com a luta pela justiça é um dos estereótipos demolidos por O Besouro Verde. Britt quer ser um super-herói, mas apenas para tornar mais divertida sua vida entediada. Sem saber o que fazer, ele passa a seguir à risca os conselhos dados por sua nova secretária (Cameron Diaz, dispensável), especialista em criminologia. E nem pensa duas vezes antes de ordenar que seu jornal dê espaço destacado ao recém-criado Besouro Verde, mesmo quando ele pouco fez de relevante. A manipulação explícita da imprensa lembra o Clarim Diário do Homem-Aranha, quando J.J. Jameson perseguia o herói aracnídeo de todas as formas possíveis. Só que, aqui, a situação se inverte.

Outro personagem clássico que imediatamente vem à memória é Batman, em especial sua relação com Robin. O principal nome da dupla é o Besouro Verde, mas ele pouco faz além de bancar os custos da brincadeira. O super-herói de fato é Kato, com seu gênio inventivo e dons de luta. Esta inversão de papéis e o curioso menosprezo do parceiro sem nome chamam a atenção. Só que tudo isto, todas estas subversões aos clichês dos super-heróis, servem apenas para ambientar os personagens. Estabelecidos, não há mais nada de interessante.

A partir de então, O Besouro Verde insiste em frases de efeito ditas para tornar tudo mais estiloso, como "ser ferroado". Até mesmo o caricato vilão Chudnofsky (Christoph Waltz, desperdiçado) entra no espírito, em uma estranha busca por ser mais ameaçador. O filme passa a contar com diversas cenas de ação, bem feitas mas tediosas. O despedaçar de carros e o som das explosões é tão comum e gratuito, sem uma real necessidade dentro do roteiro, que cansa os olhos e ouvidos. Soma-se a isto o efeito 3D percebido de forma bem leve em algumas poucas cenas, pouco acrescentando ao filme.

O Besouro Verde parte de uma boa ideia e gera momentos divertidos até a primeira incursão de Britt e Kato. Depois disto, apela para a obviedade. Algo que nunca esteve no currículo de Michel Gondry, diretor responsável por pérolas da criatividade do porte de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e Rebobine, Por Favor. Cansativo e com vários furos de roteiro, o filme decepciona mais pelos nomes envolvidos. Gondry e Waltz, em especial, podem fazer muito melhor.