Emociona, mas não inova
por Bruno BotelhoUm dos atores mais renomados de Hollywood, George Clooney – que ganhou dois Oscars em sua carreira – aos poucos começou a se aventurar como diretor de cinema em produções como Confissões de uma Mente Perigosa (2002), O Amor Não Tem Regras (2008), Tudo pelo Poder (2011) e Caçadores de Obras-Primas (2014). Em seu último trabalho na direção, O Céu da Meia-Noite (2020) da Netflix, Clooney apresentou ao público uma ficção científica mais complexa – mas acabou recebendo críticas mistas.
Talvez por isso, ele tenha decidido seguir por um caminho totalmente diferente do anterior. Em seu novo filme com Ben Affleck , The Tender Bar (Bar doce lar) do Amazon Prime Video, George Clooney recorre ao drama pessoal sobre amadurecimento na adaptação de mesmo nome das memórias do autor vencedor do Prêmio Pulitzer, J.R. Moehringer, em um livro de 2005 que narra a história de sua vida crescendo em Long Island.
Qual é a história de The Tender Bar?
Em The Tender Bar, um menino busca um substituto para seu pai, que desapareceu logo após seu nascimento e fica próximo a seu tio Charlie e aos clientes em um bar em Long Island. Tio Charlie trabalha como bartender lá e conhece todos os funcionários e clientes regulares. Ele é um indivíduo carismático e todos os seus amigos estão ansiosos para iniciar o menino em seus rituais. O garoto então ouve atentamente as histórias desses homens e se baseia nelas para obter orientação sobre como viver.
A trama acompanha o protagonista J. R. Moehringer, interpretado quando criança por Daniel Ranieri e quando jovem por Tye Sheridan. Em sua infância, ele anda com seu sábio tio Charlie (Ben Affleck), depois que vai morar na mesma casa com ele, sua mãe (Lily Rabe) e seu avô (Christopher Lloyd); na juventude, ele trabalha muito na escola e realiza o sonho de sua mãe de se tornar um estudante universitário em Yale.
Sem reinventar a roda, George Clooney conta uma história sobre família e amadurecimento
Assim como muitas cinebiografias inspiradas em memórias, o roteiro adaptado por William Monahan foca na jornada de descobrimento e, progressivamente, amadurecimento. Neste quesito, o filme de George Clooney não apresenta nenhuma novidade em comparação com outros dramas mais inventivos como foram os casos de Quase Famosos (2000) e Boyhood - Da Infância À Juventude (2014), atuando de forma bem contida na direção das cenas. Mas, ainda assim, ele consegue ser eficiente contando essa história inspiradora e, em diversos momentos, emocionante.
Com a direção focada na relação entre seus personagens, The Tender Bar é sobre dinâmica familiar e perseguição de seus sonhos. É interessante como a separação entre a mãe de J. R. com seu pai, conhecido como "A Voz" (Max Martini) por trabalhar na rádio, representa uma mudança radical para os dois: para o menino, é uma maneira de estabelecer uma relação de aprendizado com sua própria familia, enquanto para sua mãe é mais complicado por causa dos conflitos familiares – mas ela se mostra forte ao suportar seus problemas internos pensando em, apesar de tudo, conseguir dar uma vida boa para seu filho.
Por causa dessa jornada pessoal e relacionável do protagonista, os momentos em que a narrativa mostra sua infância acabam se destacando e sendo mais interessantes pelo constante aprendizado de J. R. e seus relacionamentos que, obviamente, tentam suprir a ausência de seu pai – provando o quanto, no final das contas, o enredo fala sobre a busca por algo que te complete ou que seja necessário para seguir em frente na vida. Quando vamos para sua juventude, a produção perde bastante de seu brilho de amadurecimento, mas ainda emociona com seu desejo e encaminhamento para se tornar um escritor.
Atuações de The Tender Bar vão aquecer o coração do público
Levando em conta o que falei anteriormente sobre The Tender Bar ser um drama pessoal que explora a relação entre seus personagens, a escolha do elenco e as atuações são tranquilamente o maior acerto do filme – com destaque para as performances de Ben Affleck e Daniel Ranieri, que brilham mais quando estão contracenando juntos e acabam se tornando o coração dessa história para o público.
Ben Affleck e George Clooney repetem sua parceria de sucesso – que, em Argo (2012), rendeu aos dois o Oscar de Melhor Filme, o primeiro assinando a direção e o segundo como produtor. Com Clooney agora na direção, Affleck realiza uma de seus melhores trabalhos nos últimos anos por causa da naturalidade que interpreta o inspirador tio Charlie, papel que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, na categoria de filme, e se favorece pela dinâmica impressionante com Daniel Ranieri.
Falando nele, o menino faz sua estreia na atuação depois de ser descoberto pela diretora de elenco Rachel Tenner quando ele apareceu no programa Jimmy Kimmel Live!, depois de viralizar no YouTube com um vídeo onde aparece falando contra a pandemia. Então, foi uma sorte para o filme ter Ranieri como seu protagonista, pois o carisma e a inocência do ator mirim combinam perfeitamente com as características do personagem e fornecem uma conexão ainda maior com o público durante seu amadurecimento – coisa que o Tye Sheridan também consegue passar na versão jovem de J. R. Moehringer. Outro destaque interessante é Lily Rabe, que consegue ser ao mesmo tempo uma mãe poderosa e amável, desempenhando o mesmo papel com perfeição durante as duas fases que são mostradas de seu filho.
Vale a pena assistir The Tender Bar?
Apesar de não ser uma história inédita e inventiva sobre amadurecimento, o novo filme de George Clooney, The Tender Bar, consegue emocionar por causa da dinâmica familiar verdadeira extraída das atuações, com destaque para Ben Affleck e o novato Daniel Ranieri, e a busca pelos sonhos do protagonista. Se tratando de uma adaptação de memórias do autor J.R. Moehringer, a narrativa consegue estabelecer uma intimidade necessária para a indentificação do público, ainda que careça de mais ousadia na execução.
Para quem gosta de histórias sobre relações familiares, sonhos e maturidade, The Tender Bar é uma escolha que pode aquecer o seu coração, mais pela simplicidade do que pela impônencia.