Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Mamãe, Mamãe, Mamãe

Flor da idade

por Barbara Demerov

Mamãe, Mamãe, Mamãe é um filme que diz muito com cenas que não precisam de nenhuma palavra para impressionar ou sensibilizar. Na verdade, sensibilidade define bem este filme de Sol Berruezo Pichon-Rivière, que se apropria dos universos particulares de cinco meninas para ilustrar a complexidade do feminino.

É bastante efetivo o modo como Pichon-Rivière desenvolve sua história, uma vez que ela começa da maneira mais fria e angustiante possível para, então, desabrochar tal como uma flor, mostrando as múltiplas camadas que compõem o mesmo cenário. Apesar de sempre ter como principal olhar o da pequena Cleo, que perdeu sua irmã inesperadamente quando esta se afoga na piscina de casa, o filme consegue atravessar o universo da protagonista enquanto mostra, também, as vivências de suas primas.

Quando as demais garotas chegam à casa de Cleo para auxiliar nas atividades domésticas e também serem companhia durante o processo de luto, a atmosfera de união permeia todos os ambientes -- mas ainda existe uma melancolia nos planos fixos que a diretora encaixa entre diálogos doces e leves entre primas. É como se a inocência e o peso da perda estivessem tentando se equilibrar a todo o momento em uma balança emocional.

A cena com a mãe de Cleo deitada na beira da mesma piscina em que a tragédia aconteceu, por exemplo, demarca bem o contraste de mundos tão diferentes por conta de idades, gerações e formas de lidar com acontecimentos inesperados da vida. Também é interessante ver como mãe e filha (agora única) estão unidas sem muitos diálogos: é o luto que as une até mesmo quando os planos destacam a separação física e mental entre as personagens. Sabemos que ela é momentânea, mas é visível ver o quanto isso confunde e machuca Cleo.

Mas nem tudo é triste neste ambiente familiar marcado por uma perda irreparável. É durante seu processo de compreensão e luto que Cleo descobre os sentimentos da primeira menstruação, por exemplo -- cuja prima mais velha lhe ajuda, de forma tão íntima quanto acalentadora, a entender o quão fortalecedor é se sentir conectada consigo mesma. Ainda mais que isso, são nos momentos de afeto e inocência que Mamãe, Mamãe, Mamãe alcança o nível de uma história "coming of age", pois ao mesmo tempo em que aproveita a natureza bucólica daquela casa de campo, usufrui dos aprendizados diários das meninas para transformá-las em pequenas fortes mulheres.