Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Milagre Azul

Drama que não comove

por Kalel Adolfo

Filmes com mensagens otimistas podem ser úteis em tempos desafiadores. Contudo, há sempre o perigo dos cineastas caírem em uma armadilha comum da sétima arte: o panfletarismo. E infelizmente, Milagre Azul — dirigido pelo novato Julio Quintana — acaba mergulhando neste erro.

Baseado em eventos reais, a história da nova produção da Netflix gira em torno da Casa Hogar, um orfanato que está à beira da falência. Para tentar salvar o local, Omar — interpretado por Jimmy Gonzales — inscreve as crianças do abrigo em uma competição de pesca. Caso ganhem o prêmio, conseguirão pagar a dívida que possuem no banco. Porém, se perderem, irão para a rua.

Apesar do contexto ser trágico, a obra surpreendentemente não opta por um tom melodramático. Neste gênero, é comum ver diretores saturando recursos emocionais para comover o público. Mas em Milagre Azul, Quintana foca na trajetória dos personagens de maneira entusiasmada e pouco apelativa.

Jimmy Gonzales — o protagonista do longa — possui um magnetismo natural, entregando uma performance repleta de carisma. Quando está em cena, consegue entrar em sintonia com os outros personagens, sem recorrer a uma personalidade autoritária que é comum neste tipo de papel.

Dennis Quaid — que vive o Capitão Wade — traz uma atuação competente como o rabugento pescador que tenta ajudar os órfãos a levar o troféu. E sem grandes surpresas, Steve Gutierrez acaba se destacando no grupo dos pequenos, já que proporciona inúmeros momentos de ternura durante a narrativa.

Contudo, mesmo com interpretações razoáveis, o longa nunca é capaz de desenvolver ou aprofundar o arco de seus personagens centrais. Consequentemente, o espectador não consegue criar um vínculo intenso com os acontecimentos retratados. Em um filme dramático, esse é um erro fatal.

A produção também possui propósitos questionáveis: ao mesmo tempo em que procura contar uma história de superação, o roteiro aborda espiritualidade e valores humanos de forma superficial e panfletária, sem mostrar um empenho genuíno em nenhuma destas áreas.

Como trama religiosa, Milagre Azul não oferece inovações ou novas perspectivas acerca deste subgênero. E quando o filme busca falar sobre autoconhecimento e transformação social, não há seriedade ou profundidade para sustentar estes pontos.

E claro, a narrativa está repleta de clichês: desde o humor descompensado até a trilha sonora que tenta intensificar sequências emotivas, a direção não se esforça em surpreender. Apenas a edição simples e objetiva impede a experiência de ser um completo desastre, pois ficamos engajados em descobrir o desfecho — que é apresentado nos últimos minutos.

Mesmo assim, a obra é pouco imaginativa e acaba fornecendo mais conteúdo em seus créditos finais, quando os fatos verdadeiros são resumidos após a exibição. Caso a proposta lhe interesse, pesquisar sobre a história pode ser mais aconselhável.