Comercial disfarçado de filme?
por Sarah LyraDesde os primeiros minutos de Em Busca da Cerveja Perfeita, há uma sensação de vídeo comercial da qual o documentário não consegue se livrar durante o restante da projeção. Adotando um formato convencional com depoimentos de especialistas, que explicam em detalhes o processo de produção da cerveja, o diretor Heitor Dhalia consegue criar belíssimas imagens a partir de padrões e texturas encontrados nas fábricas, como barris enfileirados e peças de maquinário. No entanto, o andamento do filme é prejudicado pela falta de clareza acerca de suas pretensões audiovisuais, principalmente porque parece oscilar entre obra cinematográfica e produto institucional, o que impede o desenvolvimento de uma identidade própria.
E não é por conta da escolha de estampar o nome de famosas marcas de cerveja — isso não é um problema no documentário —, mas, principalmente, pelo excesso de imagens de apoio que se resumem a repetições de variadas cervejas atingindo em câmera lenta um copo de vidro enquanto a espuma transborda, ou o clichê de um grupo de pessoas sorrindo ao brindar em torno da bebida gelada. São cenas que, embora bem produzidas, não acrescentam muito à narrativa. É como uma foto ou vídeo de um banco de imagens: esteticamente agradável, bem capturado tecnicamente, mas ao mesmo tempo impessoal, beirando o genérico.
O aspecto mais acertado de Em Busca da Cerveja Perfeita são os eloquentes profissionais selecionados para falar sobre o tema. Eles apresentam aspectos curiosos da indústria e discorrem de maneira apaixonada sobre o universo cervejeiro. No entanto, por mais protagonista que a bebida seja, há um elemento humano em falta no filme. Em um painel composto por 26 entrevistados, é difícil se relacionar com qualquer um deles num nível mais pessoal. As falas dos especialistas são postas de forma acelerada, o que muito contribui para o ritmo dinâmico do documentário, mas mesmo deixando clara a importância da cerveja na vida dessas pessoas, não há qualquer intenção de Dhalia em fazer um recorte mais elaborado e aprofundado das figuras.
Apesar de não apresentar uma motivação clara, o documentário funciona bem em seu caráter informativo. É interessante acompanhar as explicações sobre os ingredientes básicos para a produção de uma cerveja, assim como os cuidados específicos com cada um deles, a fim de obter um resultado pensado e bem controlado. Não coincidentemente, o filme ganha força nos momentos finais, ao explorar de forma mais assertiva os sentimentos de cada personagem em relação à cerveja perfeita. A partir da pergunta posta pelo diretor, os especialistas discorrem sobre um aspecto emocional e pessoal do ato de saborear a bebida, o que transcende o hábito de beber por si só e passa a constituir uma cultura e estilo de vida, mas a iniciativa de Dhalia, aqui, soa mais como um artifício para concluir a trama do que uma percepção criativa.