Críticas AdoroCinema
3,0
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O Céu da Meia-Noite

Mais realidade do que ficção

por Barbara Demerov

O Céu da Meia-Noite, novo filme dirigido pelo astro George Clooney, é mais do que uma ficção-científica ambientada na Terra e no espaço. Na verdade, por se passar simultaneamente em ambos os locais, o longa que chegou à Netflix pode ser considerado com mais exatidão como um drama reflexivo que procura abordar temas humanos acima da ciência. É interessante como a obra, adaptada do livro Good Morning, Midnight, toca em pontos sensíveis que estão muito em voga atualmente, ainda que o tom seja bem mais frio do que o esperado.

A história não chega a trazer temas urgentes porque, nesta ficção, o planeta Terra se deteriorou a ponto de se tornar inabitável a qualquer tipo de vida. O cientista Augustine (Clooney) é o protagonista e o centro de toda a trama, pois ao mesmo tempo em que passa uma "quarentena" na Terra, precisa entrar em contato com a outra parte do elenco - um grupo de cientistas no espaço - para avisá-los a não retornarem ao seus lares pois eles sequer existem.

Filme dirigido e protagonizado por George Clooney conta duas histórias que se cruzam sem muito impacto

Não se sabe ao certo quanto tempo se passou desde que a Terra entrou em colapso definitivo, sem dar uma última chance para que as pessoas solucionem seus problemas ecológicos. Nós, espectadores, imaginamos que tal cenário irreversível talvez tenha acontecido de forma abrupta, mas O Céu da Meia-Noite trabalha este cenário de que uma tragédia absurda pode aconteceu já num futuro não tão distante. Com os flashbacks de Augustine, sua vida normal era parecida com a que vivemos hoje.

Não deixa de ser interessante ver este paralelo do filme com a nossa realidade atual, em que o aquecimento global está cada vez mais em pauta e diversas medidas de proteção à natureza são cada vez mais necessárias na sociedade. E, apesar de não mostrar abertamente como toda a tragédia global aconteceu, Clooney transforma seu próprio filme num recado de que o planeta precisa seguir outro rumo. Ao dar um exemplo assustador e não tão fantasioso, O Céu da Meia-Noite ganha contornos ainda mais chamativos.

Porém, é inevitável notar que as duas tramas paralelas (a de Augustine e sua jornada de reflexão, e a dos cientistas que se encontram sem rumo no espaço) não se conectam tão bem. Desta forma, o filme ganha dois tipos de mensagens e tenta equilibrar o particular com o universal, mas isso faz com que o tema central (que seria a Terra) se perca.

A belíssima fotografia, os efeitos especiais e a direção consistente de Clooney são pontos positivos da obra, mas o uso de flashbacks que só ganham sentido no último ato é uma ferramenta que evidencia uma história um tanto clichê. Como não há sustentação entre a trama de Augustine e o time de astronautas liderados por Sully (Felicity Jones), O Céu da Meia-Noite possui mais força quando o filme é analisado sob o ponto de vista ligado à nossa própria realidade, e não tanto através da ficção moldada nas entrelinhas.