Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Um Amor, Mil Casamentos

As mil faces do acaso

por Barbara Demerov

Um filme que envolve casamento, comédia e romance raramente tem chances de dar errado. E, falando de forma geral, a experiência que Um Amor, Mil Casamentos traz é de como estivéssemos assistindo a uma mistura de Feitiço do Tempo com Missão Madrinha de Casamento. A ideia de se combinar uma trama com diversas possibilidades e diferentes desdobramentos em um só dia, dentro de uma festa de casamento, de fato possui sua parcela de originalidade - e, por mais que o enredo seja um tanto quanto simples e a produção seja limitada a praticamente um local, o longa de Dean Craig garante um tipo de comédia mais "escrachada", que funciona graças à escolha de um elenco que se adapta aos momentos mais cômicos com os dramáticos.

Sam Claflin (Como Eu Era Antes de Você) dá vida ao protagonista Jack. Não sabemos muito sobre o personagem, a não ser que ele é irmão de Hayley (Eleanor Tomlinson) e tem uma paixão nunca declarada por Dina (Olivia Munn). O prólogo do filme nos mostra como os personagens se conheceram em Roma e destaca que havia algo no ar, mas graças ao "acaso" e a uma chance não aproveitada, os dois nunca chegam a ser um casal. Após isso, somos transportados para o cenário principal: o casamento de Hayley com um italiano, três anos depois.

A irmã está feliz, o irmão não sabe que Dina comparecerá ao casamento e, aliado aos dois personagens, somos apresentados a um leque de personagens que participam da trama principal: ao dividirem uma mesa na festa, Jack, Dina, Bryan (Joel Fry), Amanda (Freida Pinto) e seu namorado, Marc (Jack Farthing), Rebecca (Aisling Bea) e Sidney (Tim Key) se envolvem no cenário que a narradora misteriosa diz ser um exemplo de como o acaso age - afinal, até onde cada um senta pode mudar todos os eventos desencadeados naquele dia. Uma taça cheia de sedativo (colocado para conter Marc, ex de Hayley) é a fonte de todos os conflitos de Um Amor, Mil Casamentos.

Como já citado, a escolha do elenco é uma das maiores qualidades do longa. Afinal, todos os atores acertam em cheio no humor estilo britânico, com piadas exageradas e situações absurdas que conseguem se manter engraçadas especialmente por se manifestarem em um casamento chique na Itália. O diretor, que também é inglês, deixa claro que este será o tom do filme logo no início, quando o diálogo de Jack e Dina é interrompido por um amigo do passado do protagonista. É aquele velho exemplo que vemos em filmes de comédia: pode não fazer sentido, mas o humor funciona nas entrelinhas.

Um Amor, Mil Casamentos se garante na ideia de brincar com essa gama de chances que podem dar certo ou não. O que pode parecer trivial de início (o ato de tentar conter um ex apaixonado, por exemplo) se torna uma avalanche de ações e reações que perdem o controle depois de determinado tempo. Só quando Jack acaba por ser a vítima do plano da irmã que as coisas tendem a caminhar por uma direção mais espontânea, sem maiores consequências negativas a todos que dividem a mesa.

Apesar de não desenvolver os conflitos dentre os personagens de forma mais profunda e de que o casal formado por Jack e Dina não possua tanta química (mesmo com as boas atuações de Claflin e Munn), a relação entre irmão e irmã é muito bem acertada, o que entrega uma dose de drama bem-vinda ao espectador. Os melhores momentos de Um Amor, Mil Casamentos estão nas cenas nonsense, no silêncio constrangedor entre uma piada e outra e no simples foco do filme em abordar o aqui e o agora, sem se preocupar com o passado ou futuro. No caso desta comédia matrimonial, se divertir já é o suficiente.