Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
De Nuevo Otra Vez

Analisando encruzilhadas

por Barbara Demerov

A ambivalência da maternidade, que liberta e ao mesmo tempo pode fazer uma mulher repensar muitas coisas relacionadas à vida como um todo, é aqui o ponto principal do trabalho que inclui direção e atuação de Romina Paula. Num documentário ficcional sobre uma mãe que está reaprendendo a se ver diante da realidade maternal e próximo aos 40 anos (no caso, ela mesma), há uma ternura muito forte em fazer com que tantos questionamentos não sejam tratados como se fossem empecilhos da felicidade - mas sim uma nova forma de vivenciar um novo horizonte que se abre.

Costurando um cenário fidedigno com desdobramentos ficcionais, De Novo Outra Vez tem uma belíssima direção de Paula do início ao fim, mesclando as angústias encontradas nos tons frios que permeiam os cenários de Buenos Aires com o brilho nos olhos azuis da atriz quando ela está com seu filho. É na sutileza que estão os momentos mais interessantes do filme, pois mesmo não sendo possível saber o que é exatamente orgânico ou não, ainda assim todo o contexto em que a atriz se encontra pode ser traduzido universalmente. Seus monólogos vão se misturando com cenas delicadas com a mãe, suas dúvidas perante ao casamento se dão de encontro com pequenas reuniões com amigas, e assim a narrativa segue de modo fluido.

No decorrer da história que a diretora traça - desde o retorno à casa de sua mãe e sua língua nativa (o alemão) até os reencontros que a marcaram antes do seu relacionamento que lhe fez morar em Córdoba - há também inserções que mais parecem pequenas intervenções feitas pelas pessoas que permeiam a trama. Ouvimos monólogos e vemos sobreposições com imagens da família de Paula, transformando tais momentos em pequenas pausas reflexivas entre um capítulo e outro que é narrado.

Como se fosse um álbum de fotografias aberto em determinada fase da vida, é assim que a direção fortalece os relatos ditos pela protagonista - que além de ser mãe de primeira viagem se encontra numa encruzilhada prestes a encarar (ou não) um recomeço. É um fato implícito que tal recomeço pode ser feito com exatamente as mesmas pessoas e lugares, mas o foco de seus devaneios é completamente voltado à si mesma. Suas fraquezas, medos e anseios misturam-se com imagens contemplativas em momentos aparentemente banais (o retorno de uma festa, uma brincadeira com seu filho, uma ligação feita ao seu companheiro).

Fora sua mãe e seu filho, os personagens que Paula usa são atores ou pessoas que fazem parte de sua vida? Essa pergunta é intrigante, mas não saber se a ficção se enquadra neste aspecto deixa de importar ou pesar o filme de forma negativa; o importante é a força que o diálogo da diretora alcança ao falar sobre a importância do autoconhecimento e de se ter pessoas que podem ajudar neste processo. De Novo Outra Vez é finalizado com uma cena poderosa e, sobretudo, poética: que o caminho continua, isso é fato, mas se a sua melhor companhia em toda e qualquer jornada é você mesma(o), um importante passo já foi dado.

Filme visto no 8º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, em junho de 2019.