Uma longa caminhada
por Barbara DemerovÀ primeira vista, Good Joe Bell talvez pareça ser um filme que prefere se ater aos sentimentos de um pai que perdeu seu filho pela intolerância e homofobia do que propriamente pelo filho que sofreu tais atos. E, se pararmos para pensar ao fim da projeção, o principal ponto de vista que ganha a atenção do filme por completo é o do personagem-título, Joe Bell (Mark Wahlberg).
Não que isso seja um ponto desfavorável; afinal, ele é um pai que percorre os Estados Unidos a pé a fim de fazer com que as pessoas vejam até onde o bullying pode chegar. Mas, com uma série de elementos importantes a serem abordados - a vida do filho, Jadin (Reid Miller), o drama familiar dos Bell, as idas e vindas no tempo e a viagem de Joe em si -, Good Joe Bell acaba se perdendo no meio de tantas questões que necessitariam de mais tempo para serem desenvolvidas com cuidado e atenção. E isso inclui a escolha de inverter o olhar.
Por mais que o plot twist da narrativa seja o ponto alto da produção por inverter toda a situação e tirar um pouco da impressão inicial, já citada no texto, após a grande revelação o filme se prende ao sofrimento do pai, quando poderia ir além disso. Nem mesmo a boa atuação de Wahlberg é capaz de deixar tudo nos eixos, pois o roteiro consome boa parte de seu tempo prolongando o drama interno do protagonista e deixando de lado a mensagem principal, que estava mais presente no início. Jadin acaba ficando em segundo plano quando, na verdade, era para ser o principal foco. Ao invés disso, o espectador vê diversas cenas em que Joe não sabe lidar com seu filho mais jovem, Joseph, e a esposa, Lola (Connie Britton).
A história da família Bell ganhou comoção nacional nos Estados Unidos, e talvez seja por isso que o filme se apresse em passagens importantes ou se alongue por demais em momentos pontuais para causar mais emoção (com direito a uma trilha-sonora forte e a câmera em slow motion). Além disso, o público que não é familiarizado com os eventos que o filme aborda pode sentir que há informações deixadas de lado (especialmente relacionadas a Jadin), enquanto a dramatização excessiva permeia a narrativa. A cena final de Good Joe Bell deixa a impressão de que há uma grande lacuna nos eventos narrados.
No mais, o filme de Reinaldo Marcus Green possui uma mensagem que se destina sobretudo às pessoas que convivem com o bullying e que já sofreram com ele, direta ou indiretamente. Mas a obra e a mensagem não estão em completa sintonia, especialmente pelo fato de a história começar como um exemplar de uma boa relação fraternal e ser finalizada de forma brusca, sem um desenrolar mais sólido no que diz respeito ao plano de Joe em oferecer empatia a quem cruzasse seu caminho. Talvez, agora, com um filme que simbolize sua intenção, essa mensagem possa ser absorvida por mais pessoas.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2020.