Afetuosidade desorientada
por Barbara DemerovEsta história centrada em um pai e sua filha nunca sabe ao certo o que quer realmente ser. Se por um lado temos Leo (Javier Bardem), um homem que vive em seu próprio mundo paralelo, e Molly (Elle Fanning), uma jovem que tenta cuidar do pai debilitado da melhor forma que pode, do outro temos dois personagens com questões tão adversas que é impossível não sentir tal desordem na estrutura. O filme oscila entre a doença em si e a pressão interna de Molly de uma forma nada inventiva, que não traz empatia com o que está sendo contado.
Até porque, em The Roads Not Taken, a doença de Leo nunca é explicada (não sabemos desde quando está nesta situação, o que houve com seu casamento e qual era a real aproximação com a filha antes de tudo...) e o drama de Molly não nos toca a fundo. Em um dia em Nova York, a filha vai buscar o pai para levá-lo ao dentista e ao oftalmologista, enquanto lida por telefone com uma proposta de emprego que, segundo ela, batalhou muito para conseguir.
A base da narrativa basicamente é a de simplesmente seguir ambos os personagens em um dia desafiador e mostrar o quanto a filha sofre por ver que as pessoas tratam seu pai como se ele não estivesse ali realmente. Enquanto isso, a mente de Leo leva o espectador para onde realmente está: em mundo paralelos com a ex-mulher (Salma Hayek) e também numa ilha grega, escrevendo seu livro e conhecendo duas jovens que mudam sua visão com relação à questões pessoais.
Porém, em sua grande maioria os diálogos são expositivos, deixando muito claro para o espectador que aquele homem se separou da mãe de Molly e quis morar sozinho no atual apartamento em Nova York. A história daquela família é contada através de momentos constrangedores e forçados (como quando a mãe de Molly, interpretada por Laura Linney, aparece para visitar Leo), que servem apenas para evidenciar o quanto a filha se importa com o pai e se sente perdida com toda a delicada situação.
Javier Bardem realiza mais uma performance dedicada, trazendo o único ponto de verdadeira emoção à história. Mas, como o filme não sabe escolher qual é o olhar mais digno de atenção, seus devaneios que mais parecem ser poesias não se conectam com o drama da filha, transformando uma atmosfera que poderia ser muito intensa em apenas algo bagunçado. Não é possível se colocar no lugar da filha, pois como a narrativa se dá ao longo de apenas um dia, não conhecemos a personagem a fundo para entender suas limitações e lutas internas. The Roads Not Taken apresenta mais devaneios do que uma trama precisa.
Filme visto no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020.