Eles estão entre nós?
por Barbara DemerovA ufologia é um tema cercado de casos mal explicados, mistérios nunca compreendidos e locais espalhados pelo Brasil que, segundo as lendas, já foram habitados por extraterrestres. A Pedra da Serpente utiliza um desses locais para trabalhar uma história particular sobre uma mulher que, na busca pela paz interna, acaba se encontrando dentro de uma trama complicada envolvendo tal tema. Tendo como palco a cidade de Peruíbe, acompanhamos a jornada de Joana (Claudia Campolina), que vem de São Paulo para recarregar suas energias, e inúmeros sentimentos que traz consigo: medo, insegurança e dúvidas. Em um local que teoricamente era para trazer calma, traumas pessoais se misturam com o desconhecido numa maré de maus presságios.
Dividido em cinco capítulos, o longa possui uma atmosfera curiosa relacionada à extraterrestres, mas não a expande a ponto de criar uma mitologia própria que a sustente. O suspense que paira no ar relacionado aos seres se resume ao que Joana sente - um incômodo que aparece em seus sonhos, mas que nunca chega a falar em voz alta. As ruas de Peruíbe, na maioria das vezes desertas, chocam-se com algumas cores vivas como o roxo e o verde que invadem as feições de Joana e os demais personagens. O visual de A Pedra da Serpente é caprichado e capta toda a aura misteriosa da cidade e da trama, mas a divisão em capítulos não adiciona muito à história, tampouco à estrutura, que sempre segue o mesmo tom.
Os dramas pessoais de Joana são expostos com facilidade dada a intensa atuação de Campolina, que extrai o máximo de sua personagem. Ela é o elemento mais vivaz do longa, mesmo soando um pouco exagerada em algumas nuances. No entanto, tendo em vista que a história não busca contar a história dos extraterrestres e sim do efeito que eles têm àqueles residentes de Peruíbe, era natural que o foco fosse justamente as questões que envolvem pessoas comuns e no caminho de uma mudança iminente. A presença de uma mulher grávida (Gilda Nomacce) que recentemente teve seu companheiro dado como desaparecido acentua os problemas na vida de Joana, que inicialmente foi à Peruíbe para se reconectar consigo mesma, mas no fim acabou criando uma grave situação envolvendo inúmeras pessoas.
A Pedra da Serpente é interessante por introduzir o mistério gradativamente, ao mesmo tempo em que conta a história da protagonista através de diálogos sobre suas memórias - que incluem bastante a ufologia. O diretor Fernando Sanches une o universo de seres extraterrestres com o de seres humanos comuns de maneira gradual, mas o entorno da história é desenvolvido rápido demais. As relações que Joana tem com os moradores da região se desenrolam muito rapidamente - incluindo os momentos que tem com um homem misterioso em uma festa. A personagem de Gilda Nomacce é a que entrega uma carga dramática mais sincera e potente, especialmente nos momentos em que Joana tenta amparar sua culpa.
No entanto, o esforço da dupla de atrizes não é tão hábil perante a alguns twists do roteiro, como por exemplo quando a protagonista se sente livre da própria mente pesada ao saber que fez mal (mesmo que sem querer) a uma pessoa que já era procurada pela polícia. Há soluções muito fáceis de serem deduzidas e elas acabam enfraquecendo toda a construção deste universo. A Pedra da Serpente mistura elementos da vida extraterrestre com dramas individuais e, ao não pender nem de um lado e nem do outro, vai perdendo a densidade das situações abordadas para encerrar de maneira mais fantasiosa que objetiva.