Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

Miles Morales explora o Aranhaverso e enfrenta seu destino

por Bruno Botelho

É difícil encontrar uma pessoa que não tenha se apaixonado ou ficado impressionado com Homem-Aranha no Aranhaverso (2019). Essa animação vencedora do Oscar conquistou o coração dos fãs da Marvel ao apresentar o jovem Miles Morales descobrindo seus poderes como um herói e, claro, pela experiência visual deslumbrante que mistura diferentes estilos de animação e parece ter sido tirado diretamente das histórias em quadrinhos para as telonas. Levando tudo isso em conta, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso chega aos cinemas com a responsabilidade em manter a qualidade (ou superar) do primeiro.

O sucesso de Aranhaverso teve bastante influência nas narrativas de multiverso e realidade alternativa que tomaram Hollywood nos últimos anos, especialmente no Universo Cinematográfico Marvel com Loki (2021), Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021) e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022), e até mesmo o queridinho vencedor do Oscar Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022). Felizmente, essa continuação acerta em cheio em se aprofundar nas diferentes possibilidades do Aranhaverso, ao mesmo tempo que não deixa de lado e emociona com o desenvolvimento de Miles Morales.

Qual é a história de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso?

Miles Morales está de volta em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Depois de se reunir com Gwen Stacy, o amigão da vizinhança e protetor de Brooklyn é catapultado através do multiverso, onde ele encontra a Sociedade Aranha, uma equipe de Pessoas-Aranha encarregada de proteger a própria existência do multiverso. Mas quando os heróis entram em conflito sobre como lidar com uma nova ameaça, Miles se vê confrontado e deve partir sozinho para salvar aqueles que mais ama – precisando redefinir o que significa ser um herói.

Sequência mergulha de cabeça no Aranhaverso e explora diferentes tipos de animação

Enquanto o primeiro filme não chegou a explorar profundamente o Aranhaverso, essa sequência mergulha de cabeça em todas as possibilidades do multiverso, experimentando diferentes tipos de animação e, obviamente, apresentando ainda mais versões do herói em diferentes realidades. O roteiro de Phil LordChristopher MillerDave Callaham proporciona uma experiência visualmente caótica e ambiciosa, que é refletida perfeitamente nas telonas pelo trabalho do trio de diretores Joaquim Dos SantosKemp Powers e Justin K. Thompson.

Para se ter uma noção, Através do Aranhaverso leva o público a conhecer nada menos que seis universos principais. Considerando que se tratam de realidades distintas entre si, a produção utiliza de diferentes estilos de animação para que cada um destes lugares tenha sua própria aparência e estilo – esbanjando autenticidade e proporcionado uma verdadeira viagem de descobrimento para os fãs, assim como para o protagonista Miles Morales na trama. Claro que isso é um prato cheio para as referências aos quadrinhos e cultura pop, acenando ao MCU e também aos Homens-Aranha do live-action: Tobey MaguireAndrew Garfield e Tom Holland.

Quando estamos falando de multiverso, a primeira coisa que passa pela cabeça são as diferentes versões do personagem, que aqui formam Sociedade Aranha e Aranhaverso. Cada uma dessas variantes pertencem a um universo diferente, com sua própria aparência e estilo, mas principalmente, sua personalidade desenvolvida. O roteiro tem o cuidado de que eles não sirvam apenas como uma brincadeira com diferentes possibilidades sem uma função narrativa. Muito pelo contrário, Através do Aranhaverso coloca muitos desses novos personagens como parte importante da história e da jornada emocional de Miles, como é dado o destaque para Miguel O'Hara / Homem-Aranha 2099 (Oscar Isaac), Jessica Drew / Mulher-Aranha (Issa Rae), Hobie Brown / Aranha-Punk (Daniel Kaluuya), e Pavitr Prabhakar / Homem-Aranha Indiano (Karan Soni), além dos nossos queridos e conhecidos protagonistas Miles Morales (Shameik Moore) e Gwen Stacy (Hailee Steinfeld) – sem se esquecer do Peter B. Parker (Jake Johnson).

Miles Morales confronta seu destino trágico como um Homem-Aranha

Uma das questões mais importantes de Homem-Aranha no Aranhaverso foi a representatividade para que um público mais amplo tivesse contato com a história de Miles Morales – considerando que a figura do Homem-Aranha ficou sempre muito atrelada ao Peter Parker, especialmente pelas produções cinematográficas. Por mais ambiciosa e grandiosa que seja a continuação, ela não esquece em nenhum momento de acompanhar e desenvolver seu protagonista como o centro emocional (ou melhor, o coração) para a conexão do público.

No primeiro filme, tínhamos uma história clássica de origem com um jovem Miles Morales descobrindo seus poderes e se aceitando como um Homem-Aranha. Nesta sequência, a trama explora ainda mais o amadurecimento do protagonista entrando na fase adulta, enquanto ele precisa descobrir seu próprio caminho e enfrentar suas responsabilidades longe de casa. Uma característica que une todas as versões do Homem-Aranha que acompanhamos é que todos eles tiveram que lidar com uma tragédia e perda de uma pessoa amada, usando essa dor como combustível para o amadurecimento e responsabilidade como um super-herói. O destino que Miles Morales precisa confrontar não é diferente na narrativa de Através do Aranhaverso.

É aqui que entra um conflito central do filme: Miles luta contra seu destino, querendo criar sua própria jornada e fazer suas escolhas, entrando em choque direto com Miguel O'Hara, responsável por criar a Sociedade Aranha e manter o multiverso em perfeito estado – sendo que essa decisão do protagonista poderia colocar em risco toda a existência do Aranhaverso, então temos uma verdadeira guerra entre as versões do Homem-Aranha. Esse embate é um dos pontos que mostra a força dessa narrativa, onde nós não temos necessariamente um antagonista, mas uma construção de diferentes perspectivas que se chocam. Gwen Stacy tem um desenvolvimento maior (principalmente no começo da produção), como um dos maiores destaques pela introdução dos conflitos em sua vida pessoal e sua amizade com Miles. 

Jonathan Ohnn / Mancha (Jason Schwartzman) é apresentado como o principal vilão da história. Ele serve inicialmente como um alívio cômico por causa de seu poder de abrir portais, mas progressivamente se revela mais poderoso e perigoso por causa de sua conexão com Miles. No final, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso se mostra ainda mais sombrio com a trajetória de seus personagens e prepara bem o terreno para o próximo filme (lembrando que esta sequência foi dividida em duas partes que serão lançadas separadamente, como uma trilogia) com ganchos misteriosos e empolgantes para os fãs.

Vale a pena assistir Homem-Aranha: Através do Aranhaverso?

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso é mais ambicioso que o primeiro filme, explorando as infinitas possibilidades do Aranhaverso com diferentes realidades, estilos de animação e inúmeras novas versões do personagem. Com isso, a sequência proporciona uma viagem empolgante e rica visualmente pelo multiverso, que parece ter saído diretamente dos quadrinhos da Marvel. Mas no final das contas, chama a atenção o cuidado que os envolvidos têm em trabalhar o amadurecimento de Miles Morales, seus relacionamentos e conflitos como um Homem-Aranha que precisa lutar entre enfrentar seu destino ou criar sua própria história.