Paul Mescal, Denzel Washington e Pedro Pascal duelam em sequência ofuscada pela sombra do Gladiador original
por Katiúscia ViannaQuando o assunto é Hollywood, continuações são sempre esperadas, principalmente após o triunfo de algum longa. No caso de Gladiador, essa sequência até demorou para chegar: surge 24 anos após o filme original - que venceu 5 Oscars e arrecadou mais de 460 milhões de dólares nas bilheterias. Dessa vez, o diretor Ridley Scott retorna sem Russell Crowe para contar um novo capítulo neste universo épico, mas será que Gladiador 2 consegue carregar toda a glória de seu antecessor?
Qual é a história de Gladiador 2?
Ambientado décadas após a jornada de Maximus (Russell Crowe), Gladiador 2 mostra que Roma voltou para uma época de barbárie e corrupção. Afastado de sua mãe, uma versão crescida de Lucius (Paul Mescal) assume outra identidade e tem uma vida pacífica ao lado da esposa em Namídia, mas se torna prisioneiro quando sua terra é conquistada pelo exército do general romano, Acacius (Pedro Pascal).
Logo, o protagonista aceita uma proposta do ex-escravo e comprador Macrinus (Denzel Washington): ser um gladiador em busca de liberdade e vingança contra o general. Por outro lado, Acacius trabalha de forma relutante para os gananciosos imperadores Geta (Joseph Quinn) e Caracalla (Fred Hechinger), mas apoia um plano secreto de Lucilia (Connie Nielsen) para tentar restaurar a ordem em Roma. Só que tudo pode mudar no Coliseu quando a verdadeira identidade de Lucius for revelada.
O legado de Gladiador e Russell Crowe é uma sombra insistente na continuação
Comparações com Gladiador serão inevitáveis e Ridley Scott tem consciência disso. Então, ele assume, sem medo, as conexões com o filme anterior. Seja com os retornos de atores originais, Connie Nielsen e Derek Jacobi, ou com referências à cenas icônicas do primeiro longa. Uma vez que você aceita que Gladiador 2 é uma sequência que não deseja se sustentar como um filme independente, já é meio caminho andado.
Além das homenagens, a figura de Maximus ainda surge à espreita por boa parte do tempo. Muito se fala como Lucius é um guerreiro com o potencial do antigo personagem de Russell Crowe, mas o legado do Gladiador original acaba ofuscando a nova jornada que está sendo ali apresentada. Passamos tanto tempo lembrando de Maximus que não temos tempo suficiente para conhecer o novo protagonista.
Sem falar que parece como Maximus foi a inspiração para dois personagens centrais dessa história: além de Lucius seguir uma brilhante, brutal e bem parecida ascensão como Gladiador; também é impossível não fazer paralelos de Maximus com Acacius, mais um personagem atormentado de Pedro Pascal, que também é um general que busca a honra de Roma.
Porém, é verdade que colocar Lucius e Acacius em “lados opostos” das batalhas também dá um ar interessante para o filme. Gladiador 2 muda a narrativa para abordar um visual mais decadente dessa Roma problemática. A continuação não carrega toda a glória épica do original, mas surpreende em certos aspectos - tanto nos espetáculos das areias do Coliseu como nos bastidores, através do enigmático personagem de Denzel Washington.
Às vezes, parece um drama familiar de novela das nove, só que com espadas envolvidas? Sim. Mas isso ajuda a enriquecer o entretenimento do projeto - que sempre almeja fazer algo maior que o primeiro Gladiador. Sem tempo para perder, a história tem guerras, um rinoceronte, tubarões no Coliseu e sangue para todo lado. Quem busca grandes cenas de ação não vai sair decepcionado no cinema.
Paul Mescal, Denzel Washington e Pedro Pascal estrelam Gladiador 2
Esse é o primeiro blockbuster de Paul Mescal, que já foi aclamado por performances incríveis na série Normal People ou longas como o emocionante Aftersun, que lhe rendeu uma merecida indicação ao Oscar. Mais uma vez, ele entrega um bom trabalho, principalmente no aspecto físico. Dá para ver o esforço corporal para entregar a figura de um verdadeiro gladiador. Porém, ao mesmo tempo, falta um tom grave ou mais dramático para seu personagem no roteiro escrito por David Scarpa (Napoleão). Apesar de tantas batalhas, Lucius quase sempre carrega um semblante tranquilo em relação a toda essa confusão.
Quem rouba a cena é Denzel Washington (sem grandes surpresas, afinal ele é o Denzel Washington!), que certamente parece se divertir muito ao interpretar Macrinus. Já esse personagem é capaz de ser um brutal estrategista que almeja o poder de Roma, ao mesmo tempo que faz um brinde sorridente ao seu lado, como se fosse seu melhor amigo. Essa dualidade cabe perfeitamente no talento do artista, então não seria exagero pensar em uma possível indicação na temporada de premiações, dependendo da recepção do longa.
Por sua vez, Pedro Pascal entrega mais um senhor habilidoso em guerras que tem arrependimentos (alô The Last of Us!), porém ainda se destaca de forma bem interessante, trazendo mais gravidade para a história ao apresentar o outro ponto de vista sobre os “jogos” do Coliseu e a guerra criada por Roma. Finalmente, Joseph Quinn (queridinho de Stranger Things e Um Lugar Silencioso: Dia Um e Fred Hechinger (franquia Rua do Medo) formam uma dupla interessante de opostos unidos pelo caos como os imperadores. Será interessante ver a dinâmica de Pascal e Quinn numa situação totalmente diferente em Quarteto Fantástico - Primeiros Passos.
Vale a pena ver Gladiador 2?
Ridley Scott é um dos diretores mais amados no cinema hollywoodiano. Qualquer cinéfilo poderia passar horas falando sobre suas contribuições para a sétima arte (esse homem criou Alien, Blade Runner e Thelma & Louise, o defenderei até a morte). É verdade que nem sempre ele acerta (cof cof cof, Casa Gucci, cof cof cof), mas quando acerta, é notavelmente um espetáculo para olhos e mentes.
Gladiador 2 pode sofrer muito por viver na sombra do filme original estrelado por Russel Crowe, mas é inegável que traz um espetáculo capaz de entreter e valer a pena o preço salgado do ingresso e do combo de pipoca. Com um elenco talentoso e grandes cenários, Scott provou que pode trazer histórias intrigantes para universos já conhecidos. Não é um filme perfeito, mas cumpre o que promete, o que já é muito melhor do que muitos filmes lançados por aí.