Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Minamata

Uma fotografia pela justiça

por Barbara Demerov

De tempos em tempos, desastres naturais geram diversas obras audiovisuais; algumas mais realistas, outras mais focadas na ação. Enquanto isso, desastres provocados por humanos passaram por um período na geladeira e, somente nas últimas temporadas, estão ganhando destaque. É o caso da minissérie da HBO Chernobyl e do recente lançamento O Preço da Verdade - Dark Waters. A carência deste tipo de abordagem, ainda que ficcional, destaca a falta de divulgação de centenas de crimes ambientais que atingem a sociedade ao redor do mundo - majoritariamente as pessoas mais carentes de qualquer apoio do governo.

Tais pessoas que vivem marginalizadas e esquecidas por companhias ou indivíduos que deveriam tratá-los de forma justa ganham o foco em Minamata, filme inglês protagonizado por Johnny Depp. Seu papel é o do fotógrafo americano W. Eugene Smith, responsável por tirar fotos que denunciaram o crime de uma grande corporação japonesa que infectou dezenas de habitantes da costa de Minimata com mercúrio. Ambientada nos anos 70, a história abrange inúmeros pontos relevantes; desde o que o poder dos ricos podem fazer com a debilitação dos mais pobres até a própria história de Smith, ex-soldado de guerra.

O grande problema de Minamata é que o filme não decide o que quer ser, entregando diversas cartas na mesa sem as utilizar devidamente. A narrativa mescla elementos biográficos, inserindo flashbacks de Smith na guerra, mas não traduz seus verdadeiros traumas ou, ao menos, por que não fala com seus filhos. Do lado histórico, o mais marcante é ver com bastante detalhes o que a doença causada pelo envenenamento faz com crianças e jovens. O trabalho de fotografia e de som são o ponto alto da experiência - especialmente nos momentos em que a imagem colorida se funde ao preto e branco, simulando as fotos que o profissional tirou ao longo deste trabalho.

Felizmente, Johnny Depp sai um pouco do lugar-comum de seus personagens amplamente conhecidos por trejeitos bem particulares (ou até mesmo do trabalho de voz que força a impressão de que está embriagado). Seu personagem é alcóolatra, mas nem por isso ele fica na zona de conforto. Contudo, nem seu esforço para mergulhar no papel de Smith compensa as irregularidades do roteiro e de boa parte do elenco secundário, que falham em alcançar níveis mais comoventes devido às falas engessadas e expressões reprimidas.

Minamata desenvolve tantos conflitos entre a própria população, de Smith com os japoneses e também com a própria empresa tóxica, que pouquíssimo impacto pode ser retirado de tudo isso. O fato de um americano ter de salvar toda uma comunidade não chega a incomodar, mas algumas escolhas ao seu redor, sim. A redução progressiva do papel da ativista Aileen (Minami), por exemplo, entra em conflito com o reconhecimento tardio que o fotógrafo recebe dos habitantes. Mas, apesar de haver uma inversão que reduz apenas um lado e que não seja executado de forma mais dedicada enquanto cinema, o longa tem em si uma mensagem poderosa. Ela não é transmitida da melhor forma, mas os créditos finais valem a reflexão.

Filme visto no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020.