Revisita
por Francisco RussoA moda do relançamento de grandes sucessos em 3D tem possibilitado aos espectadores a chance de rever, na telona, alguns filmes memoráveis – é o caso de O Rei Leão e A Bela e a Fera, ambos da Disney. Monstros S.A. é outro destes filmes queridos por muitos que volta agora aos cinemas, sob a desculpa da conversão para a terceira dimensão. Sim, desculpa, pois na verdade são poucas as sequências onde pode-se perceber de fato a influência do 3D – a abertura, com os créditos, e a belíssima cena das portas, quando toda a grandiosidade da Monstros S.A. é enfim revelada. Entretanto, mais importante do que conferir o 3D é ter a chance de assistir em uma sala de cinema a um dos filmes mais inspirados da Pixar.
A proposta do filme é, por si só, encantadora. Os monstros trabalham em uma fábrica e visitam os quartos das crianças para assustá-las, já que os gritos delas servem como energia no mundo em que vivem. O grande pulo do gato é que os monstros temem as crianças, por considerá-las tóxicas. Com isso há todo um cuidado – e pânico embutido, análise sintomática da humanidade quando lida com o desconhecido – quando algo do mundo dos humanos acaba vindo parar no lado dos monstros. É neste momento que entra uma das personagens mais geniais já criadas pela Pixar: Boo.
Boo é uma menininha adorável, que mal sabe falar. Sem querer ela segue Sully, o maior de todos os assustadores da Monstros S.A., e entra no universo dos monstros. Em meio ao inevitável desespero, as características naturais de uma criança afloram com uma delicadeza impressionante, capaz de tocar o coração do próprio Sully e de todos os espectadores. Além disto, Boo representa também a inversão de valores: no mundo dos monstros, é ela quem assusta os outros. Uma sacada genial, que move boa parte do filme.
Monstros S.A. é um dos melhores exemplos da criatividade da Pixar, por pegar uma ideia base e, a partir dela, criar todo um universo em torno daquela realidade, mesmo que para tanto seja preciso criar regras próprias, a partir do olhar sob esta nova situação. Foi assim também com o mundo visto pelos brinquedos de Toy Story e o aquário de Procurando Nemo, por exemplo. Tudo contando com uma animação de qualidade, que ainda hoje, 12 anos após o lançamento original, impressiona pelo movimento dos pêlos de Sully e a emblemática sequência em que Sully e Mike passeiam pendurados nas portas. Excelente filme, para ver e rever sempre que possível, com ou sem 3D.