A Guerra de Anna: Crítica AdoroCinema

Diferente de muitos filmes ambientados na Segunda Guerra Mundial que focam numa visão ampla do que acontece na guerra em si, assim como no drama vivido por soldados e civis, A Guerra de Anna visa expor as dificuldades individuais de uma garotinha que acaba por ser a representação de uma situação que certamente aconteceu com milhares de pessoas: a necessidade de desaparecer dos olhos de nazistas e de manter-se vivo, não importa por quais meios.

Logo na intensa cena inicial, o diretor Aleksey Fedorchenko já mostra sua intenção de chegar o mais próximo possível da crueldade da guerra. Com a câmera contornando partes de alguns corpos na terra, a pequena Anna aparece com vida dentre seus familiares mortos pelos nazistas. Sua mãe a protegeu e fez com que, milagrosamente, a menina saísse ilesa. Com a força de sair rapidamente do meio de sua família, é como se Anna tivesse acabado de renascer; desta vez, completamente só.

Após procurar por refúgio, ela acaba sendo enviada a uma casa comandada pelo 3º Reich, mas consegue se esconder na chaminé de um dos cômodos. A proximidade com que a câmera se mantém no rosto de Anna quase que o tempo todo é essencial para que possamos sentir um pouco do que é estar preso no pior lugar possível, sem a menor possibilidade de fuga.

Durante a noite, Anna aprende aos poucos a como se manter viva dentro daquela chaminé e no entorno da casa, ao mesmo tempo em que durante o dia observa silenciosamente a rotina dos soldados que passam por aquela sala. Por meio de inúmeros fade-ins e fade outs que passam a ideia de um período, a guerra pelo olhar desta criança não tem relação com armas e bombas; aqui, ela vive a guerra pela sobrevivência e pelo mínimo de dignidade.

Por mais que seja esperta e rápida em suas ideias, Anna também é uma órfã que de um dia para o outro não tem mais uma base, tampouco o afeto humano. É avassalador acompanhar seu dia a dia, seja procurando por água, comida, ou tendo que matar animais para sobreviver.

Contrastando momentos de coragem com momentos de desespero e solidão, A Guerra de Anna é uma história que não fantasia em nada sobre a guerra e que evita amenizar os acontecimentos abordados, por mais que a protagonista seja uma criança. Esta realidade não perdoou ninguém, e também cabe ao cinema não nos deixar esquecer este fato.

Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.