Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Happy Hour - Verdades e Consequências

As consequências do desejo

por Barbara Demerov

Quando um casal tenta mudar sua rotina, geralmente organiza alguma viagem ou busca um novo local para começar tudo do "zero" a fim de melhorar a vida a dois. Mas e quando uma das partes surpreende e sugere que a saúde amorosa pode melhorar com um relacionamento aberto? Uma ideia simples para Horácio (Pablo Echarri), mas muito complicada para Vera (Letícia Sabatella). Este é o ponto inicial de Happy Hour, filme que gira em torno do amor mas que também toca nos problemas que podem surgir quando não fugimos da imagem que construímos das pessoas.

Com uma trama que gira em torno de Horácio, argentino que vive no Brasil há 15 anos com sua esposa e filho, o filme de Eduardo Albergaria aproveita a trama amorosa do casal para inseri-la dentro de um contexto político que não dá margem para o tipo de relação que o marido procura: como Vera está prestes a se candidatar como prefeita, seria impossível ter uma vitória caso viesse à tona que seu casamento é aberto, mais "informal". Não é como se o relacionamento fosse uma fachada, pois ambos nutrem afeição um pelo outro e o atrito só começa quando Horácio propõe tal ideia. O problema em questão é como ele chega a ela.

Quando Horácio captura acidentalmente um homem foragido, o "bandido aranha", sua perspectiva de vida muda, como se ele agora tivesse a chance de fazer tudo o que mais tem vontade. Portanto, soa um pouco incoerente ele propor outro tipo de casamento à sua mulher apenas porque encontrou a fama da noite para o dia e, agora, há mulheres interessantes atrás dele. Não só incoerente mas também oportuno, como se a coincidência tenha lhe dado combustível e o colocado num patamar de que merece exercer sua idealização.

Happy Hour é um drama que gira em torno dos problemas emocionais do casal protagonista para entregar situações do cotidiano que beiram a comédia (emulando um estilo latino ou europeu com os diálogos longos e ligados a assuntos banais), mas acaba se excedendo em seus temas ao inserir sub-tramas que não coincidem com o dilema principal, que é o modo como os dois lidam com o casamento. O trabalho de Vera como política, por exemplo, esbarra numa crítica social quanto ao valor que as mulheres têm no mercado profissional, mas não ultrapassa clichês (como o fato de estar sempre rodeada por homens e tentar falar mais do que eles) para atingir uma discussão potente. Ao escolher a vida pessoal ao invés de sua carreira, Vera acaba sendo diminuída, mas ao menos encontra de relance a liberdade que o marido tanto pensava em conquistar.

Leticia Sabatella traz uma serenidade não só à sua personagem mas para toda sua jornada também, enquanto Pablo Echarri possui vigor de sobra, resultando em um dinamismo interessante entre o casal no início do longa. Mas, com o passar da narrativa, a sensação de que nada está efetivamente mudando na vida daquelas pessoas fica bem latente, o que traz uma dificuldade para com o ritmo do filme e mais ainda na química do casal.

Com atuações que mesclam o delicado com o intenso, Happy Hour ganha seu fôlego justamente neste quesito. Fora isso, o desenvolvimento dos conflitos soa ora apressado, ora artificial, pois não há muito a ser entregue fora o jogo de gato e rato que Vera e Horácio fazem entre si. Fica claro que o desgaste do relacionamento de Vera e Horácio é intencional para expor o que se passa na mente de Horácio - mas se ele começa empolgante, termina enfraquecendo todo o entorno.