Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Tigertail

Solidão e aproximação

por Barbara Demerov

Nos momentos iniciais de Tigertail, o protagonista Pin-Jui, já adulto, conta sua história de infância a nós, espectadores. Ele relembra o breve tempo em que ficou longe de sua mãe, quando esta procurou um trabalho fixo até se estabelecer e criar o menino da melhor forma. E, não menos importante, Pin-Jui nos conta sua história de amor com Yuan Lee, que acaba por ser um elemento extremamente importante para delinear sua experiência de vida.

Do diretor Alan Yang (co-criador da série Master of None), Tigertail se propõe a abordar de maneira ampla, com certa distância, o cenário de imigrantes chineses e sua vinda aos EUA. E não só isso: Yang também busca contar a história de seu próprio pai de maneira livre, sem se ater exatamente a todos os seus passos. A visão que nos é exposta, então, é a de um homem que formou uma família cuja ligação nunca pareceu tão afetuosa - e por mais que o enredo não apresente mais momentos com os filhos adultos ou de como foi construir uma família na América, é possível entender o que se passa ali dentro de seu coração.

São poucos os fragmentos que são possíveis de captar no ar que deixam claro as barreiras entre o protagonista e seus entes: Pin-Jui falando para a filha não chorar após uma apresentação de piano (algo que sua avó lhe disse ainda em Taiwan), o diálogo com a esposa Zhenzhen logo quando os filhos saem de casa, o reencontro com a filha já adulta e a clara dificuldade em simplesmente conversar. O filme não busca isentar o homem de seus erros, mas ao nos apresentar Yuan Lee e todas as contrariedades do romance juvenil, o personagem ganha mais camadas.

E são camadas silenciosas, explícitas nos olhares e na postura do ator Tzi Ma, excelente no papel. Tigertail avança narrativamente mais por um lado emocional do que propriamente pelos acontecimentos da trama, mas isso não chega a ser um demérito. Na verdade, é difícil não se pegar comovido pela história de Pin-Jui - seja por ele sempre estar distante da mãe, só se aproximando mais durante o trabalho, ou pela sensação de desamparo ao chegar num país novo e, principalmente, quando este vê que sua rotina dificilmente irá mudar. Ainda que delicado, o olhar do diretor perante o imigrante oriental tem seu peso.

Quando, enfim, a narrativa nos traz de volta a personagem de Yuan na linha do tempo em que ambos os personagens são adultos, já com suas famílias formadas, é agridoce vê-los relembrar um momento que de fato mudou suas vidas para sempre. Tigertail nunca deixa de transmitir, enquanto cinema, o efeito de cada momento na vida de um indivíduo - no caso, Pin-Jui.

Sua vida cheia de interrupções e de perguntas como "e se?", transmitidas só pelo olhar, potencializam essa história de vida que precisa ser contada em voz alta para que as pessoas o compreendam de verdade. Quando o protagonista e sua filha enfim conversam e procuram entender um ao outro, o que logo nos é exposto visualmente é algo parecido com um retrato familiar. O resultado, além de ser a cena mais bonita de Tigertail, nos remete à sensação de união. Felizmente, Pin-Jui não mais está sozinho.