Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Ray & Liz

Ruína familiar

por Barbara Demerov

O título deste filme pode indicar, à primeira vista, que estamos prestes a conferir uma história de amor, de cumplicidade. Porém, o baque vem logo na primeira cena, em que vemos um Ray já de idade mais avançada completamente sozinho em seu apartamento. O clima sóbrio e monótono faz parte do que o diretor Richard Billingham quer passar: o sentimento de uma realidade triste e, sobretudo, vazia.

O título Ray & Liz, portanto, soa um tanto sarcástico. Os dois personagens estão afastados de tudo o que está ao redor - incluindo de seus dois filhos. Em três momentos distintos da vida desta família, o filme vai intercalando cenas que não estão completamente ligadas entre si, mas dizem muito sobre a atmosfera já citada que permeia aquelas vidas.

O grande problema do filme, no entanto, é que mesmo que possua elementos intrigantes, ele não os aproveita tão bem. Não é possível saber muito sobre Ray e Liz, tampouco como se conheceram ou até mesmo sua relação como casal. O foco cai para os filhos e a negligência com a qual são criados (o que resulta em cenas desoladoras e orgânicas), mas isso também não acaba sendo suficiente para tornar o ritmo da história mais eficiente.

Entre cigarros, quebra-cabeças e muito álcool, Ray & Liz mostra um retrato de relações familiares que vivem nos escombros de suas emoções. Não há demonstrações de afeto em nenhum momento; o que há em excesso é a pura e simples falta de ação - o que pode ser chocante demais para alguns ou maçante para outros. O que não dá para negar é a dose de realidade contida dentro daquelas rotinas.

Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.