Críticas AdoroCinema
3,0
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Convenção das Bruxas

Mais tecnologia, menos sustos

por Barbara Demerov

Convenção das Bruxas certamente foi um dos filmes dos anos 90 que mais assustou as crianças na mesma medida em que se tornou um grande símbolo da cultura pop. A transformação de Anjelica Huston, por exemplo, ainda permanece no imaginário popular e as crianças daquela época nunca chegaram a esquecer da marcante cena que apresenta a esperada convenção do título. Mas, acima de qualquer coisa, o filme de Nicolas Roeg é uma fantasia que, por mais que fale sobre bruxas, também aborda temas como amizade, amor familiar e aceitação.

Todos estes temas podem ser considerados atemporais e, aliado às mulheres malvadas que fizeram bastante sucesso nos anos 90 (especialmente com Abracadabra também), o remake de Convenção das Bruxas está dentro de um território seguro. Seguro porque as crianças que hoje são adultas não veem mais produções do gênero há um tempo e porque as crianças da atualidade sequer imaginam o quanto Huston realçou o poder que as bruxas têm no quesito aterrorizar. Agora, com direção de Robert ZemeckisAnne Hathaway no papel da Bruxa Rainha, a clássica história encontra os dias atuais.

Mas isso não quer dizer que a nova versão de Convenção das Bruxas traga um novo olhar à história. Em termos estruturais, tudo se mantém praticamente igual. Com exceção de, é claro, a escolha de seu elenco principal, com Octavia Spencer e o pequeno e simpático Jahzir Bruno, que interpretam avó e neto. Ao evidenciar o protagonismo negro, o longa alcança uma mensagem um pouco mais ampla no que diz respeito à perseguição das bruxas para com a comunidade em que os dois vivem. O claro aproveitamento da tecnologia também difere bastante da versão anterior, que por sua vez conta com mais efeitos práticos.

Filme de Robert Zemeckis entretém e segue a mesma cartilha do clássico de 1990, mas tecnologia supera os sustos

Felizmente, isso não tira o impacto visual da convenção em si, especialmente pela atuação espantosa de Anne Hathaway no papel da líder das bruxas. Com sotaque carregado e presença vivaz, a vilã conta com alguns dos mesmos traços que Huston empregou no papel, mas a face do terror é bem diferente aqui. Não há a retirada de máscaras, mas sim um sorriso de orelha a orelha que, por mais que não apareça tanto, é impactante por si só. O brilho da personagem de Hathaway recai em sua personalidade debochada, implacável e arrogante nas mesmas medidas.

Apesar de não explicar por completo de onde vieram as bruxas e de se apoiar na conveniência de um inusitado encontro entre as mulheres e os protagonistas, Convenção das Bruxas apresenta bem o contexto da avó com seu neto -- e isso é o suficiente para que a atmosfera de aventura e fantasia seja bem equilibrada com a dose de terror grotesto que surge a partir das bruxas. Esta nova versão não assusta da mesma forma que o filme de 1990, mas o design de produção e os figurinos compensam com um belo visual multicolorido, tirando o espaço do sombrio para dar lugar ao fantástico.

A tecnologia é o que difere ambos os filmes, pois Zemeckis prefere manter-se no conforto da conhecida história ao invés de ousar e entregar uma visão mais característica de seu trabalho num aspecto geral. Convenção das Bruxas ganha seu peso, portanto, no valor que o clássico possui na memória do espectador familiarizado e como novidade para o público jovem. Contando com boas atuações de Hathaway e Spencer, esta aventura funciona para quem ainda não foi introduzido a um universo onde as bruxas simplesmente existem, crianças são transformadas em ratos e, apesar disso tudo, as coisas ainda podem acabar bem. Aqui, a fantasia é efetivamente simples.