Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Predadores Assassinos

Tensão pautada pela urgência

por Barbara Demerov

O terror vai muito além da quantidade de sustos provocados ao espectador. O bom resultado dentro deste gênero envolve o cuidado na ambientação, a consistência dos personagens apresentados e, é claro, a situação que move a trama em si, que é preciso ser autossuficiente. Predadores Assassinos, novo filme de Alexandre Aja (Piranhas), possui um roteiro simples e diretamente conectado ao desastre natural que assombra a personagem Haley (Kaya Scodelario) e seu pai, Dave (Barry Pepper), uma vez que ambos se veem presos dentro de sua própria casa na Flórida a partir do momento em que um furacão traz de "presente" uma leva de crocodilos.

A urgência que a narrativa entrega do início ao fim não faz com que a mesma se apoie em contornos previsíveis ou atos puramente trash vindos de seus personagens. Pelo contrário, Aja aproveita este estilo de terror ao máximo com a situação de desespero de Haley ao se ver sozinha dentro de uma casa que aos poucos se inunda de água, com o intuito de ajudar seu pai (já ferido por um dos animais). Além do mais, é clara a preocupação do diretor em tratar de forma genuína o relacionamento entre pai e filha, que se mostra verossímil em todos os diálogos e se encaixa com o comportamento da protagonista. Tarefa difícil para um filme de puro imediatismo, mas que é realizada com sucesso.

Como já citado, o trash é a característica mais abraçada por Aja aqui, mas ao mesmo tempo tal escolha não faz com que o filme se torne uma comédia involuntária. Entre as armadilhas bem feitas por Haley e sequências silenciosas que certamente farão o coração do espectador bater mais rápido, não há espaço nem tempo suficientes para que o riso se encaixe na narrativa. Uma vez que os ambientes escuros e destruídos são o foco e Haley é o principal instrumento de ação, a boa direção do cineasta torna tudo extremamente crível e, principalmente, assustador.

Contudo, é curioso ver que Predadores Assassinos ainda consegue, de forma quase que espontânea, ser divertido enquanto nos assusta. Mesmo unindo certos subgêneros do terror com toda a impetuosidade de uma catástrofe natural que assola a Flórida, além da presença animalesca que se aproveita do rastro destrutivo, este blockbuster que não tem medo de ser um blockbuster cria momentos criativos e de boa qualidade (especialmente no que diz respeito aos efeitos visuais). E, ainda, tem a possibilidade ser um filme com traços de drama, sem incluir passagens cômicas que pouco adicionam à experiência e que poderiam muito bem tirar a carga desconfortável da história.

Por falar em desconfortável, a atuação de Scodelario resume bem o que significa lutar não só pela própria sobrevivência, mas também pela vida de alguém que ama. A atriz realmente mergulha de cabeça na personagem, e suas dores relacionadas a um passado recente com o pai logo são atropeladas pela dor física e pungente, que precisa de ajuda imediata. Ao longo de algumas horas, Haley se dá conta de que o pai que se separou recentemente de sua mãe é o mesmo pai que sempre lhe apoiou e a motivou para um caminho de sucesso - e até mesmo a pequena conveniência do roteiro que envolve o fato da personagem ser boa em natação não tira a dramaticidade deste importante arco.

Predadores Assassinos desfruta até mesmo de seus momentos mais absurdos para criar um clima de pânico incessante e um senso de possibilidades que não incomoda, pois o contexto é bem construído a ponto de se tornar realístico - até mesmo quando um crocodilo invade um banheiro e é preso no box. Se a palavra "simples" não parece se encaixar em um filme como este, vale observar como Alexandre Aja aproveita as restrições da cenografia (que se limita apenas à casa da família praticamente em 80% da duração) para, assim, executar uma produção repleta de engenhosidades práticas e visuais.