Pé no futuro, coração no passado
por Nathalia JesusQuando Chadwick Boseman faleceu em agosto de 2020, deixou um buraco no coração de seus familiares, fãs, e um espaço difícil de ser preenchido no tão elogiado Pantera Negra. A sequência do filme, Wakanda Para Sempre, também dirigido por Ryan Coogler, se reinventa para suprir com a ausência do ator e o resultado impressiona.
Em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, o povo de Wakanda enfrenta o luto pela trágica morte de Rei T’Challa, em decorrência de uma grave doença. Enquanto o reino passa pelo momento mais vulnerável de todos, novas ameaças surgem: primeiro, o governo norte-americano deseja explorar o Vibranium, o metal mais forte do mundo. Mas, essa parece ser a menor das preocupações quando um antagonista ainda mais imponente surge.
Em paralelo, uma temida figura entra no caminho do povo de Wakanda: Namor (Tenoch Huerta), líder do reino subaquático Talokan, que deseja acabar com toda a humanidade acima da superfície terrestre e espera que Wakanda o ajude — sob ameaça de se tornarem os inimigos mais letais que os Wakandanos já enfrentaram.
Um lindo tributo a Chadwick Boseman
O segundo filme do Pantera Negra é mais que um filme que compõe o Universo Cinematográfico da Marvel e, enquanto desenvolve novos rumos para os personagens que já conhecemos, também configura-se como uma grande homenagem de duas horas e 41 minutos de duração, sem afetar o andamento da história. Além do mistério de quem seria o novo protetor de Wakanda, o tributo ao ator era um dos momentos em que os fãs mais ansiavam — Ryan Coogler, junto com seu brilhante elenco conseguiram demonstrar, com emoção, o respeito o qual Chadwick Boseman e o Rei T’Challa merecem.
Wakanda Para Sempre faz com que, apesar da ausência, o personagem do saudoso ator participe e tenha importância na história sem que seja apenas em reflexões fúnebres. Embora não tenhamos o T’Challa em vida, presenciamos seu impacto nas decisões determinantes em Wakanda, na maneira em que os inimigos enxergam o poderoso reino e, principalmente, nos sentimentos que movem as pessoas que mais o amavam.
A sequência de Pantera Negra conseguiu reconstruir novos enredos para o filme de maneira em que não minimiza a importância de nenhum dos personagens — exceto a de Michaela Coel, que era um dos nomes que causaram interesse ao ser anunciado no elenco e acabou não recebendo devida atenção, concluindo o filme com pouquíssimas falas e tempo de tela.
O crescimento de Shuri como protagonista
Antes conhecida como a genial irmã do Rei T’Challa, Shuri agora é muito mais que isso. Em Wakanda Para Sempre, a personagem é colocada em uma curva de desenvolvimento que a impede de voltar ao estado anterior. Ela começa o filme enlutada e amargurada por não ter sido capaz de salvar o irmão, mesmo tendo tantas habilidades especiais e ferramentas ao seu dispor. Seu primeiro choque é perceber que a tecnologia não pode fazer tudo por ela e que a vida é mais complexa do que cálculos e algoritmos.
Shuri enfrenta o luto da maneira que consegue, ignorando a vida fora do laboratório e quaisquer que sejam as expectativas alheias sobre o seu futuro. Mas, quando surge um potencial perigo a Wakanda, não recua. Nesse ponto, a personagem mostra um novo lado para o público e para si mesmo: ela pode ser mais política do que imaginava e o ímpeto de impedir uma grande guerra a obriga a sair da posição de vulnerabilidade. Durante todo o filme, notamos que o luto continua ali, lembrando-a constantemente de tudo o que perdeu, mas agora Shuri sabe que precisa reagir.
A agora protagonista é ainda mais admirável em Wakanda Para Sempre do que foi em Pantera Negra, principalmente porque entende que não é autossuficiente e não hesita em contar com a ajuda de sua mãe Ramonda (Angela Bassett), da fiel Okoye (Danai Gurira), a cunhada Nakia (Lupita Nyong’o) e o exército das Dora Milaje. Letitia Wright consegue transitar perfeitamente entre a jovialidade e bom humor pela qual Shuri ficou conhecida e a maturidade que a personagem desenvolve com as experiências dolorosas que enfrentou. No filme, a vemos em sua melhor versão.
Como peças de quebra-cabeça soltas em uma Wakanda desprotegida, as demais personagens também mostram sua importância para ajudar o reino a se reerguer. Aqui, vale destacar o trabalho de Dominique Thorne, a Riri Williams, que será futuramente conhecida como Coração de Ferro (Ironheart, no original). Em sua estreia no Universo Cinematográfico Marvel, a atriz chega com o pé na porta e encanta desde suas primeiras cenas, nos apresentando à mais uma jovem genial e interessante para o andamento dos próximos capítulos da franquia. Inclusive, sua inserção no filme é o fio condutor para os principais acontecimentos que colocaram Wakanda em risco.
A imponência de Namor
Namor, interpretado por Tenoch Huerta, é outro grande destaque de Wakanda Para Sempre. O personagem transita entre a vilania e as boas intenções — e que história de origem dos antagonistas, afinal, não tem um pouco disso? O líder de Talokan é um novo nome na saga da Marvel nos cinemas, mas consegue extrair nossa empatia mesmo que esteja ameaçando personagens que conhecemos há tanto tempo.
Ele se torna ainda mais assustador quando percebemos o quão imponente ele é, o quão poderoso é seu reino e suas habilidades. Ainda sim, o clubismo do espectador com seus personagens tão queridos de Wakanda não nos cega completamente, a ponto de conseguirmos compreender sua razão de ser, através de uma história de origem bem estruturada, revelada didaticamente no filme.
É um vilão facilmente amável, apesar de ser menos carismático do que figuras anteriormente conhecidas, como os saudosos Loki (Tom Hiddleston) ou Thanos (Josh Brolin). Seu potencial poder de destruição é alarmante, no entanto, deixando um sentimento amargo sobre o que seus próximos passos representam para os mocinhos da Marvel.
Abertura para novas histórias
Em Wakanda Para Sempre, o Pantera Negra de Chadwick Boseman encontra um candidato à altura para assumir o traje. A nova pessoa responsável pela proteção do reino mostra que pode ser tão capaz quanto T’Challa e que o título está em boas mãos. O novo filme de Ryan Coogler representa caminhos interessantes para a Marvel e abre a possibilidade para histórias dos quadrinhos que não imaginaríamos ver tão cedo nos cinemas.
O longa-metragem consegue ser tão bom quanto Pantera Negra foi em 2018, com viradas de roteiro que tornam a experiência uma verdadeira montanha-russa sentimental. É um filme que incita fortes emoções por acontecimentos dentro e fora da tela, causando lágrimas (a crítica que vos escreve que o diga…), surpresas e sorrisos em momentos inusitados — como esperado da Marvel.