Nada de novo
por Barbara DemerovExplosões por todos os cantos, cenas de ação frenéticas, um vasto elenco e uma trama que envolve salvar o mundo. Esquadrão 6 é, sem dúvida alguma, um legítimo filme de Michael Bay. O que não quer dizer que seja um grande feito, tendo em vista que seus últimos longas (Transformers: O Último Cavaleiro e 13 Horas) não conseguem ir além da comodidade já conhecida que o diretor possui em seus filmes, quase sempre de gêneros semelhantes. O principal problema do filme não recai nele exclusivamente, mas sim na saturação de uma identidade repetida há muito, muito tempo.
Em seu novo projeto exclusivo para a Netflix, Bay explora a dinâmica do grupo de profissionais dedicados a salvar o mundo através do que sabe fazer melhor: da ação desenfreada. Tanto que, logo nos minutos iniciais, o espectador já é introduzido à narrativa com uma perseguição de carros que se enquadra no estilo Missão Impossível. Uma cidade da Itália é o primeiro palco de muitos ao longo das duas horas de Esquadrão 6, cujo enredo aproveita até sua última gota para inserir qualquer tipo de violência.
Uma pena que, apesar de seu bom elenco (com destaque para Ryan Reynolds, líder do grupo, e Mélanie Laurent, uma espiã dedicada), o longa não os desfruta da melhor forma. Diferente do primeiro filme dos Transformers, por exemplo, os diálogos entre todos os integrantes, que são chamados por números e não por nomes, são rasos e sempre beiram ao caricatural, com piadas fora do timing e pouco entrosamento individual fora a missão pela qual se uniram a realizar. Talvez o fato de os personagens não se chamarem pelos nomes seja uma irônica confirmação da distância emocional existente entre todos eles.
Contudo, Michael Bay não se opõe quando o assunto chega ao relacionamento físico de alguns personagens. O teor sexual, ainda que não se encaixe de forma nada natural na trama, se faz bastante presente em Esquadrão 6. Em uma determinada cena, a personagem de Laurent se relaciona com outro membro da equipe em um momento completamente inesperado: durante uma das missões mais violentas do grupo. Após inúmeros closes em assassinatos múltiplos numa suíte de hotel, a última coisa que podemos pensar em ver a seguir é uma cena de sexo - mas é justamente isso o que acontece. Cenas como essa nada acrescentam ao arco principal e, ainda, mostram que Bay apenas quer inserir uma dose de romance para compensar a violência, ainda que estes momentos não conversem entre si.
Esquadrão 6 busca tanto fazer com que seus protagonistas sejam os heróis do fim do dia que se esquece de tornar suas motivações mais críveis. Pouquíssimo é revelado sobre suas histórias, exceto pelo personagem de Reynolds (e, mesmo assim, seu lado oculto mantém-se destituído de significado). Apelando para uma trama nada complexa que envolve um político tirano que faz seu país sofrer com atos egoístas (além do local ser esquecido pelo resto do mundo), o roteiro não sai do lugar-comum, sendo completamente clichê até nas sequências de perseguição. Além disso, o fato de estranhos (em sua maior parte americanos) se unirem a fim de salvar a humanidade aparenta não ser nada mais que uma exibição nacionalista dos Estados Unidos em serem os únicos "salvadores da pátria".
Mas, pelo menos aos olhos do diretor, isso já faz a história andar: a única coisa que importa é o Esquadrão de pessoas "fantasmas" agir em equipe. Se eles se gostam ou têm um diálogo decente, aparentemente não importa. Mas é justamente por isso que a história parece tão oca quando olhamos mais de perto, pois não há quaisquer resquícios de humanidade nestes personagens - por mais que todos preguem a paz e união mundial. Um time de heróis nunca pareceu tão sem vida.