Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Carcereiros - O Filme

Uma trama aprisionada

por Barbara Demerov

Em mais um caso de uma série de sucesso que se transforma em longa-metragem, Carcereiros - O Filme, do diretor José Eduardo Belmonte, tem como intenção expandir seu universo com uma base quase que estritamente focada na ação - e não exatamente nas questões sociais que envolvem as instáveis rotinas dos carcereiros e prisioneiros. Diferente da série, o objetivo do filme é muito claro: aproveitar o protagonismo de Rodrigo Lombardi e inserir uma trama simples que reverbera a ambientação já conhecida.

Além de Lombardi, boa parte do elenco da série está de volta, fator esse que auxilia na preservação do estilo próprio da história e também abre espaço para que o time de roteiristas deem bastante atenção ao imediatismo das situações abordadas. As cenas de ação, além de serem um ponto alto pela boa construção e condução de Belmonte, ditam o ritmo da narrativa e garantem a atenção do espectador. O único revés é que elas são quase sempre muito escuras, o que dificulta uma visão mais detalhada do presídio e suas diferentes áreas.

No entanto, é por conta do seguimento da mesma receita que vemos na televisão que Carcereiros - O Filme nunca chega a alcançar todo seu potencial enquanto cinema. Apesar das boas sequências de embates entre prisioneiros e polícia ou até mesmo entre duas facções rivais, a história não engrena a ponto de trazer novidades (como a já citada falta de aproximação dos personagens com um contexto atual mais amplo, que foge do esperado). O tratamento de personagens não deixa a desejar porque o roteiro dá espaço para que Lombardi e o elenco coadjuvante entreguem bons diálogos entre si, mas nada do que é dito vai além do que está acontecendo naquele dado momento. Nem o fato de haver um prisioneiro internacional chamado Abdel (interpretado por Kaysar) na narrativa faz com que a mesma tome um rumo que abrange melhor o tema que ele traz consigo: o terrorismo. A presença do personagem serve como muleta para que a política se infiltre aos poucos no andamento da história.

E é justamente a partir de quando o longa se atenta mais à sucessão de fatos dentro do presídio que não dialogam diretamente com o mundo externo que a história torna-se um tanto maçante. Felizmente, a ação equilibra a falta de vigor em muitos momentos e ressalta a intenção de cada personagem naquela noite de tensão: Adriano, por exemplo, é contra a violência, enquanto Juarez (Rômulo Braga) e outros prisioneiros pertencentes a facções conversam na base de ameaças e tiros. Uma pena que a composição dos ideais de Adriano sejam tratados com bastante superficialidade e em apenas um diálogo que, além de ser expositivo, dá informações que tornam-se desnecessárias posteriormente, pois não há mais nenhuma menção sobre a vontade do protagonista em sair da prisão e voltar a lecionar. Ou, ao menos, porquê ele teima em não deixar o emprego de carcereiro para tranquilizar sua própria família.

Diante das inconsistências citadas, o principal twist narrativo de Carcereiros - O Filme soa um tanto apressado e sem muito sentido. A progressão inesperada que começa no plano da polícia em proteger Abdel por uma noite e chega aos prisioneiros políticos de delação premiada é interessante, mas pouco elaborada. Os eventos dão mais voltas que o necessário e, por vezes, tanta coisa acontece que é difícil compreender qual é o verdadeiro foco ali. Este thriller de ação poderia trazer questionamentos e reflexões sobre o sistema carcerário, mas no fim se limita a contar uma história sem brilho sobre vingança e não aproveita a identidade própria que possui.