A dor do silêncio
por Barbara DemerovTomás (Facundo Underwood) é um menino que já sabe se virar à sua maneira. Parcialmente esquecido por sua mãe (uma viúva que sai com outro homem e não dá atenção ao que ele tem a dizer), o protagonista utiliza da solidão para ser livre; mas, sendo uma criança e possuindo um olhar curioso para muitas coisas, Tomás também sente a necessidade de conhecer mais a figura de seu falecido pai – e, através dela, a de si próprio.
Mochila de Chumbo é um filme focado especificamente em um momento importante da vida do garoto, que já está decidido a encontrar o homem que supostamente tirou a vida de seu pai. Por não termos mais informações além das que vemos em tela, todo o restante fica à mercê da nossa imaginação, sendo relativo para cada olhar, podendo auxiliar ou prejudicar a força da narrativa.
Sendo assim, o grande destaque fica para Facundo Underwood, que traz muitas emoções na pele de um menino que só deseja atenção e algumas respostas. Algumas cenas expõem bastante delicadeza e mostram o quanto o garoto realmente gosta da sua casa: em duas cenas, ele tem a chance de fazer uma refeição na casa da tia e do avô, mas é na mesa de sua sala de jantar que ele realmente se sente completamente confortável. Mesmo que sua mãe não expresse tanta afeição em retorno.
A arma na mala de Tomás representa, ao mesmo tempo, o fardo e a coragem. Dada por seu amigo, ela é a chance do protagonista ter forças para enfrentar um de seus maiores medos, que é o de saber o que houve de fato com seu pai. Quando vê que tem a chance de obter um ponto final nas suas interrogações, ele passa por uma espécie de rito de passagem: as questões mal resolvidas começam a ficar mais claras e, talvez, podem ter ajudado o garoto a entender que sua realidade pode ser mais leve.
O filme não busca trazer tanta intensidade nos acontecimentos e nem possui a intenção de dar respostas ou sinais do que aguarda Tomás no futuro, mas consegue transmitir uma sensação de imediatismo que combina com seu tom.