O poder da companhia
por Barbara DemerovA relação entre mãe e filha gera uma base para ótimas histórias, especialmente pelo fato de que toda ligação materna tem sua peculiaridade. Em The Chaotic Life of Nade Kadic, primeiro filme da diretora mexicana Marta Hernaiz, os traços mais marcantes da maternidade são expostos com simplicidade, captando a sutileza de momentos rotineiros entre uma mãe solteira e sua filha pequena.
Beirando o diagnóstico de autismo, a filha de Nada (Aida Hadžibegović) realmente possui características do transtorno; seja falando palavras incompreensíveis ou sem dar muita atenção ao que a mãe diz, Hava (Hava Đombić) é uma criança encantadora e carinhosa, mas que precisa de atenção o tempo todo. Nada, por sua vez, devolve um carinho ainda maior, explícito em seus olhares e gestos o tempo todo.
Acima de qualquer outra característica, o filme busca exibir o dia a dia de uma mãe que luta para manter seu conforto e que ainda precisa compreender a condição de sua filha, o que representa um grande desafio diário. Nada é uma pessoa que faz muitas coisas ao mesmo: cuida da casa e de Hava, assim como tenta conciliar seu trabalho (fonte de renda para todos os exames médicos) com a escola infantil. Misturando situações cotidianas da maneira mais natural possível, o roteiro passa a sensação de que tudo o que está acontecendo é factual, e não ficção. A atuação de Aida é primordial para nos aproximarmos daquela realidade.
A devoção por sua filha traz leveza à todas as situações pelas quais Nada passa, pois é palpável o amor que uma nutre pela outra. A criança, que fala duas palavras o filme todo, expõe tal sentimento com toques e olhares, da maneira mais ingênua possível. É tocante ver tais gestos, que ficam mais latentes durante uma viagem de carro entre ambas. Inicialmente uma "fuga" para reparar sentimentos do passado e fortificar os laços com o mesmo, Nada vai entendendo, aos poucos, que o futuro pode estar mais próximo do que ela inicialmente almejava.
The Chaotic Life of Nade Kadic é basicamente um road trip entre mãe e filha. Com belíssimas cenas ao redor do interior da Bósnia e uma amabilidade notável entre as duas personagens, é possível se encantar até mesmo quando o silêncio e o "nada" acontecem.