Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
A Caminho da Lua

Superando limites e atualizando ideias

por Barbara Demerov

Por mais que possuam mensagens mais focadas ao público infantil, certas animações também atingem outro público-alvo: o adulto. No caso de A Caminho da Lua, produção lançada pela Netflix neste mês de outubro, isso acontece logo nos primeiros minutos, quando a narrativa já se concentra em um tema delicado e marcante: a perda de um ente querido. É desta forma que a jovem protagonista Fei Fei nos é apresentada, a partir de uma introdução que mescla o amor entre um pai viúvo e sua filha com o modo como cada um deles lida com o luto.

Através de uma roupagem multicolorida e um visual estonteante, o animador e diretor do longa, Glen Keane (A Bela e a Fera), distribui bem os temas contidos em A Caminho da Lua -- desde a introdução ao universo de Fei Fei, repleto de amor e com incentivo à imaginação, até a problemática envolvendo um novo amor na vida de seu pai. Uma vez que a conhecida lenda de Chang'e, a deusa da Lua, é abordada ainda na infância, ela acaba por se tornar o único elo entre a protagonista e sua mãe, que falecera muito cedo.

As motivações de Fei Fei são muito bem delineadas desde o princípio: inteligente e dedicada ao negócio da família desde cedo, ela procura meios de ir à Lua muito por conta de provar a si mesma (e aos familiares) de que a lenda que cresceu ouvindo através da mãe sempre foi real. Mas, como em toda aventura, a busca pela figura celestial é apenas uma porta de entrada a outras questões que já a rondavam antes, transformando-se em uma oportunidade única de mudança.

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O interessante é que a própria figura de Chang'e -- que acaba por ter uma personalidade bem diferente da esperada por Fei Fei -- também está no mesmo caminho da protagonista. Isso resulta em uma troca sensível entre duas pessoas que ainda não sabem como lidar com o luto; sendo que uma delas convive com essa dor há milênios, mesmo não estando sozinha. Porém, há diversos momentos em A Caminho da Lua que desvirtuam um pouco esta mensagem principal, e isso acontece pela adição de personagens secundários (como as criaturas da Lua) que adicionam mais comédia e leveza do que necessariamente conteúdos relevantes para a trama. 

As passagens musicais são extremamente bem feitas (incluindo as que se passam na Terra, que remetem bastante à introdução de A Bela e a Fera com a vizinhança), mas no decorrer das músicas o tom infantil se sobressai à reflexão encaixada no início. Somente no clímax, em uma poderosa cena entre Fei Fei e a deusa lendária, que a mensagem acerca do luto e do receio em seguir a vida após perder pessoas se encaixa como no início.

Com isso, A Caminho da Lua dá algumas voltas em prol de entrar no padrão de diversão às crianças para, apenas no desfecho, reforçar a ideia de que é possível seguir com a vida amando aqueles que já se foram e abrindo o coração para que outras possam ingressar nela. Especialmente na relação de Fei Fei com seu possível meio-irmão, tal símbolo se fortalece e, apesar de não muito surpreendente, é o elemento-surpresa da narrativa, em que Chang'e não é a responsável pela resolução dos problemas, mas sim quem impulsiona uma mudança de perspectiva na jovem protagonista.