Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
A Madeline de Madeline

Conhecendo-se através da arte

por Barbara Demerov

O cenário teatral é a alma de A Madeline de Madeline, cuja história gira em torno de uma jovem com distúrbios mentais que se sente totalmente livre quando encena ser outra pessoa (ou até mesmo um animal). Ao trabalhar em uma companhia de teatro e ter uma mentora que busca extrair fragmentos de sua própria vida para transformar em encenação, Madeline passa por uma montanha-russa de sensações. Sensações essas que já são comuns na adolescência, mas que aqui aparecem intensificadas pela paixão que ela possui pela arte.

A Madeline de Madeline expõe uma perspectiva bem interessante do que é fazer arte e do que pode ter consistência suficiente para se tornar tal. Além disso, a diretora Josephine Decker trabalha muito bem sua câmera e aproveita todo o talento da jovem e promissora protagonista (Helena Howard). A câmera sempre permanece próxima ao seu rosto e corpo, aumentando a percepção de intimidade para com Madeline e seu turbilhão de sentimentos.

A relação de Madeline com sua mãe tem papel de peso na narrativa e envolve todo o trabalho artístico da jovem, enquanto ela tenta encontrar sua personalidade como indivíduo, e não só como personagem. Através da arte, ela tem a chance de (re)nascer com a plenitude e a certeza de quem ela é de verdade e quem ela pode ser dali para frente - mas isso só pode acontecer depois de certo tempo de afinidade com o que é capaz criar no palco. O teatro e o palco servem também como a rota de conectividade de Madeline para com a vida real.

Com uma linda fotografia e a vivacidade chamativa da protagonista, A Madeline de Madeline funciona como rito de passagem que só acontece durante uma fase específica, em que também se encontra o ápice de tudo o que Madeline demonstra: vontade de crescer, de falar, de sentir e, principalmente, de ser.

Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.