Cenas de ação elaboradas em uma narrativa vazia
por Bruno BotelhoJohn Wick - De Volta ao Jogo, estrelado por Keanu Reeves, e suas sequências Um Novo Dia para Matar e Parabellum, estabeleceram um patamar elevado para o cinema de ação atual, com cenas de ação impressionantes e coreografias bem elaboradas, sem falar no visual estilizado dos filmes. Isso rendeu muitos frutos interessantes para o gênero como Atômica estrelado por Charlize Theron e Anônimo estrelado por Bob Odenkirk. Kate, novo filme original da Netflix em 2021, é mais uma produção que segue a influência recente da franquia John Wick – ainda mais evidente com a presença de David Leitch em sua produção, que foi diretor não creditado de De Volta ao Jogo e produziu suas sequências.
Kate (Mary Elizabeth Winstead) é uma habilidosa assassina. Quando ela é envenenada e lhe é dada apenas 24 horas para viver, embarca em uma caçada pelas ruas de Tóquio para se vingar do responsável, antes que morra.
Mary Elizabeth Winstead rouba a cena como protagonista em filme de ação
A protagonista do filme é Kate, uma assassina treinada que trabalha para Varrick (Woody Harrelson), que também é seu mentor e uma espécie de figura paterna para ela. Durante uma missão importante, ela acaba errando um tiro certeiro e assassinando o pai de uma criança que estava presente na cena do crime. Passados dez meses depois do acontecimento, ela ainda segue assombrada pelo assassinato que cometou na frente de criança, mas em seu último serviço, ela acaba sendo envenada por radiação irreversível e tem apenas 24 horas para completar sua jornada de vingança.
Mary Elizabeth Winstead é um nome muito conhecido em Hollywood, marcando presença em filmes como Premonição 3, Scott Pilgrim Contra o Mundo e Rua Cloverfield, 10. Um dos seus trabalhos mais notáveis recentemente foi em Aves de Rapina - Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, onde ela interpreta a Caçadora e mostra um desempenho impressionante nas cenas de ação. Por isso, a escolha dela em estrelar Kate parece ser um caminho natural para esse momento interessante em sua carreira.
Com flertes de personagens femininas icônicas do cinema, como Ellen Ripley (Sigourney Weaver) em Aliens, O Resgate e Sarah Connor (Linda Hamilton) em O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final, Kate é uma mulher durona em uma busca implacável por vingança. Apesar dela não ter um grande desenvolvimento em sua personalidade, Mary Elizabeth Winstead entrega o que se espera de uma protagonista de ação, com uma performance física impressionante e execução de coreografias de maneira criativa. Durante a trama, ela acaba reencontrando a garota que ela deixou orfã, que se chama Ani (Miku Patricia Martineau), e a dinâmica entre as duas é o grande destaque do filme depois das cenas de luta, pois mostra um lado mais humano da personagem, escapando um pouco de seu aspecto durão clichê.
Kate é um filme de ação estiloso e bem coreografado, seguindo o estilo de John Wick
Logo de cara, fica clara as influências e pretenções do diretor francês Cedric Nicolas-Troyan, responsável por O Caçador e a Rainha do Gelo (2016), para Kate. Ambientado na cidade de Tóquio, no Japão, o cineasta segue os moldes principalmente de Atômica e John Wick para apresentar um filme com muita estilização visual, especialmente quando utiliza o neon por todos os lados, e cenas de ação de tirar o fôlego. Por isso, Cedric Nicolas-Troyan pesa a mão fortemente nesses momentos, que são o grande atrativo da produção (e provavelmente o único).
Existem sequências em Kate que realmente bastante memoráveis, especialmente as sequências de luta, que se destacam por causa de coreografias inteligentes e aliadas à, elogiada anteriormente, ótima performance corporal de Mary Elizabeth Winstead. Uma delas lembra bastante o banho de sangue no restaurante em Kill Bill - Volume 1, com Kate mostrando todo o seu potêncial de assassina e causando diversas mortes em um jantar. Além das lutas, existe uma sequência de perseguição de carro no filme que também é empolgante, ainda que peque pelo excesso de efeitos visuais. Se o diretor aposta suas fichas nas cenas de ação, o mesmo cuidado não acontece durante os diálogos sem inspiração do filme, que sofrem com uma narrativa vazia e nada interessante.
Apesar das cenas de ação competentes, Kate falha em sua narrativa problemática e vazia
Convenhamos que um filme ambientado no Japão e que não existe uma justificativa lógica para isso, a não ser estética, e mostra sua protagonista branca e estrangeira assassinando membros de uma organização criminosa asiática é, sem dúvidas, um roteiro bastante problemático. Mas, além disso, o roteiro assinado por Umair Aleem sofre com uma narrativa desinteressante.
Os personagens acabam sendo desinteressantes em uma história de vingança nada inventiva, que apenas se sustenta pela performance de Mary Elizabeth Winstead e as cenas de ação envolventes. Tudo fica pior no último ato do filme, onde o roteirista não consegue encontrar uma maneira convincente de apresentar as revelações da trama, que aparecem de forma previsível e sem nenhuma sutileza – que, por sinal, é um problema que pode ser facilmente encontrado durante toda a duração de Kate.
No final das contas, Kate é mais um filme de ação que segue os moldes da franquia John Wick. Ele serve como um entretenimento divertido por causa das cenas de luta elaboradas e pela performance de Mary Elizabeth Winstead, provando que consegue ser uma das grandes estrelas do cinema de ação atual. Mas quem procura algo além disso, sem dúvidas vai se frustar. A narrativa de Kate sofre com um roteiro clichê e desinteressante que serve apenas para preencher os momentos do filme em que não vemos nenhum grande momento de ação acontecendo na tela.