Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Alguma Coisa Assim

Qualquer coisa assim

por Lucas Salgado

Antes de ficar conhecido pelo trabalho no intenso Os Famosos e os Duendes da Morte, o diretor Esmir Filho havia comandado Alguma Coisa Assim (2006), em que acompanhava dois jovens amigos descobrindo a noite de São Paulo, enquanto um deles, o garoto, explorava sua sexualidade. Agora, uma década depois, o cineasta retorna à história contando com codireção de Mariana Bastos.

Alguma Coisa Assim (2017) aproveita boa parte das cenas do curta citado, mas insere outros dois períodos na vida dos amigos. Assim, acompanhados três momentos importantes na vida de Caio (André Antunes) e Mari (Caroline Abras). Evitando uma história linear, o longa consegue despertar o interesse no espectador no desenvolvimento das tramas dos personagens. De certa forma, a intenção é fazer algo parecido com a trilogia Antes do Amanhecer, mas em um filme só, e tendo como foco uma amizade e não um romance.

A ideia é interessante, mas o filme nem de perto tem a inspiração do texto de Richard Linklater. O curta tinha um elemento sensorial interessante, que se justificava diante do fato de que Caio estava descobrindo um novo mundo e Mari meio que se sentindo um pouco de lado com aquilo. No formato maior, com 80 minutos de duração, há muitos excessos, muitas sequências que pouco contribuem para o desenvolvimento da narrativa.

Além da balada em São Paulo, acompanhamos Caio em seu casamento, tendo Mari como madrinha, e, anos mais tarde, os dois em Berlim, onde ela mora e ele vai passar um período estudando. Os paralelos entre a noite de SP no primeiro ato e a cena noturna alemã não funcionam tanto quanto os diretores pretendiam, soando algo apenas repetitivo, quase preguiçoso.

Tecnicamente, o filme tem seu valor, especialmente na fotografia de Marcelo Trotta, que mostra bem a inquietude dos jovens. E ao mesmo tempo explora a beleza dos ambientes. A montagem de Esmir e Caroline Leone consegue pular bem de um período para o outro, mas não foi capaz de cortar os excessos da produção.

No final das contas, o longa não traz muito de novo com relação ao curta. Quem era fã da obra original vai gostar de ver o desenvolvimento dos personagens. Que também representa um desenvolvimento dos atores, especialmente Caroline Abras, que realiza um trabalho primoroso aqui. André Antunes não está mal, mas é ofuscado por sua coprotagonista nos momentos mais intensos.

Filme visto no 19º Festival do Rio, em outubro de 2017.