Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
Bye Bye Jaqueline

Garota deseja garoto

por Bruno Carmelo

Este projeto chega aos cinemas movido por ambições sociais e cinematográficas notáveis. Em meio a uma safra nacional que ignora os adolescentes, pulando do público infantil à representação adulta, Bye Bye Jaqueline ocupa uma lacuna flagrante. Do mesmo modo, merece ser destacada a vontade de debater a sexualidade dos jovens por um ponto de vista feminino, em uma produção de moldes independentes. Além disso, o diretor Anderson Simão pretende incluir um retrato social sobre uma garota de classe social desfavorecida, sem vitimizá-la nem julgá-la.

Diante destes pontos, é uma pena que o resultado seja tão frágil. Em termos narrativos, o filme demonstra grande dificuldade de imprimir ritmo e ocupar seus personagens com ações e conflitos. Na maioria das cenas, duas pessoas ficam paradas em quadro, conversando uma com a outra. Elas dizem o que sentem, o que pensam, o que querem, já que a imagem não consegue retratar estes anseios por si própria. O roteiro é extremamente dependente dos diálogos, algo problemático devido à baixa qualidade das falas e da construção de personagens.

Fica clara a intenção de transmitir as hesitações e idiossincrasias da adolescência, mas as trocas verbais são escritas demais, soando artificiais, engessadas. Tiradas como “Eu estava te olhando e achei a tua bunda bem redondinha”, o rapaz torcendo para que eles ganhem “alegria e memórias boas”, as divagações sobre a “praça do caralho” e sobre a “classe média” incomodam pela inabilidade de reproduzir qualquer naturalidade. O texto dificulta o trabalho dos atores, que partem de personagens rasos (pobre Fernando, limitado a uma imagem admirada por Jaqueline) e motivações limitadas.

Basicamente, Bye Bye Jaqueline explora o desejo de uma garota por um garoto. Não existe vida fora deste único conflito: os amigos servem apenas para reforçar o amor da dupla central. Isso é uma pena, pois Gabrielle Santana poderia se sair muito bem com um texto mais afiado e uma direção de atores coerente. Apesar de os adolescentes se comportarem de modo infantilizado, quem mais preocupa são os adultos. O bizarro panorama de personagens maduros inclui um professor excêntrico e impulsivo, um treinador explosivo e uma mãe ausente. Ironicamente, a história centrada na família e no ambiente escolar rejeita a crença na pedagogia e na transmissão de valores. O projeto pode ser otimista quanto ao amor romântico, mas bastante pessimista quanto ao amadurecimento.

No que diz respeito à linguagem cinematográfica, as fragilidades se acentuam. A montagem estica as cenas sem conseguir imprimir comicidade nas piadas ou dramaticidade à dor da adolescente. O trabalho de som é fraquíssimo, com as duplas de personagens (Jaqueline e Amanda, Jaqueline e Marchesi) conversando em salas de aula e pátios de escola estranhamente desprovidos de ruídos. Os personagens parecem viver numa bolha, o que reforça a artificialidade do conjunto. A mixagem não consegue articular os sons de modo coeso, em especial a trilha sonora. A dilatação do segredo envolvendo Fernando soa tão desnecessária que acaba por sublinhar a vacuidade da narrativa como um todo. Bye Bye Jaqueline esvazia o debate social, revela-se pudico e inseguro no retrato da sexualidade, e pior, não confia no espectador, em seus atores nem em suas imagens, precisando se justificar o tempo inteiro.