Novo Crystal Lake
por Kalel AdolfoApós uma morna introdução ao universo criado por Leigh Janiak (Honeymoon) em Rua do Medo: 1994 - Parte I, o segundo volume da trilogia eleva os padrões da narrativa, trazendo elementos nostálgicos bem construídos, atuações irreverentes e um senso de diversão contagiante que — até então — estava ausente na saga de terror.
E apesar de servir como uma continuação direta aos mistérios apresentados no volume anterior, Rua do Medo: 1978 - Parte II traz uma proposta sólida o suficiente para ser julgada como uma obra independente. Aliás, caso você esteja procurando por um revival convincente de grandes clássicos do slasher como Sexta-feira 13, Acampamento Sinistro e Chamas da Morte, o título será uma experiência extremamente prazerosa.
Desta vez, a trama retorna para os anos setenta, retratando os assassinatos brutais que ocorreram no acampamento Nightwing. Ziggy Berman (Sadie Sink) e Cindy Berman (Emily Rudd) — vítimas do massacre — são peças centrais da história, já que de alguma forma, conseguiram sobreviver aos ataques sobrenaturais liderados pela temida Sarah Fier. Portanto, Deena (Kiana Madeira) e Sam (Olivia Scott Welch) devem prestar atenção aos fatos narrados por C. Berman, já que podem encontrar uma forma de escapar da maldição que continua assolando Shadyside.
Slashers irão dominar a nova década?
Rua do Medo: 1978 alimenta uma tendência fortalecida por títulos como You’re Next (2011) e It Follows (2014) nos últimos anos: o retorno dos slashers ao mainstream. Extremamente desgastado por fórmulas repetitivas, o subgênero vem encontrando fôlego novamente nas mãos de cineastas talentosos que conseguem brincar com os clichês e reinventar algumas regras. Tudo isso sem levar a proposta sádica tão a sério.
E apesar de Janiak não conseguir atingir a inventividade de algumas obras recentes, o segundo volume da trilogia consegue resgatar a sensação escandalosa e subversiva presentes neste tipo de trama. Jovens inconsequentes, drogas por toda a parte e escolhas estúpidas: a diretora não negligenciou nenhum destes pontos em seu projeto.
Aliás, assistir ao segundo volume da trilogia é como ouvir uma assustadora lenda urbana em frente a uma fogueira na floresta. Nós já sabemos tudo o que vai acontecer, mas isso não torna a experiência menos cativante ou amedrontadora.
Sanguinolência e dramas paralelos na medida certa
Apesar dos efeitos práticos continuarem a fazer falta neste novo capítulo, as sequências sanguinolentas entregues são extremamente efetivas. De esquartejamentos à fraturas ósseas, a produção não poupa esforços em tentar embrulhar o estômago dos mais fortes. Mais do que uma simples carta de amor ao subgênero, a trama escapa da homenagem artificial e consegue criar as suas próprias raízes.
Contudo, se engana quem pensa que o segundo volume se resume a perseguições e mortes excêntricas. Alguns dramas secundários — como o relacionamento conturbado entre Ziggy e Cindy — são bem explorados no roteiro, trazendo maior profundidade e senso de propósito a esses personagens.
Diferente da apatia apresentada em Rua do Medo: 1994, a continuação lida com questionamentos mais relevantes, como o medo de ser definido pelo passado e as consequências de negar a própria identidade.
Utilizando o embate entre Shadyside e Sunnyside como plano de fundo, todas as adversidades apresentadas acabam ganhando ainda mais veracidade.
Formato do filme da Netflix é questionável
Apesar de diversos elementos darem certo nesta continuação, é inevitável pensar que Rua do Medo poderia ser um projeto muito melhor caso fosse transformado em um seriado. O excesso de informações distribuídas em menos de duas horas retira a simplicidade encantadora da trama, proporcionando uma áurea bagunçada — e até amadora — para o projeto.
A objetividade dos slashers é o que abre espaço para a inventividade e excelência do subgênero. Contudo, a preocupação em ser ambicioso a cada minuto faz com que o filme desvie do foco e acabe não atingindo os pontos necessários para criar uma experiência avassaladora.
Mas de modo geral, Rua do Medo: 1978 entrega muito mais do que seu antecessor. Com uma atmosfera ensolarada e sangrenta, o segundo volume da trilogia tropeça para entreter com qualidade, mas consegue entregar uma porção de momentos satisfatórios para os saudosistas do cinema de horror.