Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Se a Rua Beale Falasse

Uma história de amor

por Lucas Salgado

Dois anos após ver seu drama social Moonlight: Sob a Luz do Luar superar o romântico La La Land - Cantando Estações na temporada de premiações, o diretor Barry Jenkins chega agora com seu mais novo projeto: If Beale Street Could Talk.

E o que mais chama a atenção no novo trabalho, é que ele parece ter mais em comum com La La Land do que com Moonlight. Inclusive, a cena de abertura de If Beale Street Could Talk parece quase uma alfinetada em La La Land e nos críticos que defendiam o colorido e fascinante musical de Damien Chazelle. A cena em questão traz o casal protagonista da história, com figurinos de cores fortes e sobrepostas, diante de uma trilha que se faz presente.

Adaptação de livro homônimo de James Baldwin, o filme conta a história de Tish Rivers (KiKi Layne) e Fonny Hunt (Stephan James), dois amigos de infância que começam a namorar no início da vida adulta, mas que veem seu futuro abalado quando o homem é acusado de um crime injustamente.

O elenco conta ainda com as presenças de Regina King (impecável), Colman DomingoMichael BeachDiego LunaPedro Pascal e Dave Franco.

Jenkins opta por centrar sua atenção no que a acusação contra Fonny repercute em sua companheira e familiares. A questão social se faz presente, é claro, mas o diretor não perde tempo no drama policial ou jurídico. O foco está no drama pessoal e na injustiça social.

Embora seja uma obra menos potente - e menos envolvente - que Moonlight, é certo que If Beale Street Could Talk tem muito a dizer. Especialmente no que diz respeito à permanente luta das minorias nos Estados Unidos e a violência policial.

Geralmente, o racismo é retratado no cinema como algo que afeta um ou vários personagens. Aqui, além disso, nos deparamos com um racismo que afeta um filme, quase que impedindo que o mesmo seja aquele romance adorável e idealizado.

A trilha sonora de Nicholas Britell é parte importante da narrativa, mas o destaque maior vai para o design de produção e figurinos de Caroline Eselin. Por sinal, Jenkins fez questão de usar quase que a mesma equipe de Moonlight, mostrando que segue a premissa de que "time que está ganhando não se mexe".

Assim como na obra anterior, o cineasta volta a trabalhar com o duro realismo acompanhado de um lado lúdico e poético. O novo longa peca um pouco na hora de passar sentimento, mas é um exercício pra lá de bem executado.

Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018