A complexidade do silêncio
por Barbara DemerovO que você faria para se aproximar de alguém que já partiu? Existe algum limite, alguma barreira que não deve ser ultrapassada? Para o protagonista de O Confeiteiro, Thomas, não dá para saber com exatidão se há alguma limitação. Ele simplesmente busca ir ao encontro de seu ex-amante Oren, em Israel (mesmo sabendo que ele não está mais presente neste mundo) e vai se perdendo à medida em que encontra algumas respostas. O primeiro longa do diretor Ofir Raul Graizer traça com delicadeza uma jornada de dúvidas, respostas e complexidade baseadas, sobretudo, no silêncio e nos olhares sob diferentes as perspectivas de um mesmo fim.
O Confeiteiro apresenta o artifício mais simples para desenvolver uma trama cheia de complicações e nuances: a precariedade de comunicação que acarreta numa jornada instigante de Thomas em Israel. Essa mistura de sensações e experiências começa na cozinha, local onde ele faz suas criações das mais diversas para a aprovação dos outros, e se encontra diretamente com um relacionamento inusitado: o interesse crescente (e mútuo) com a viúva de seu ex-amante, Anat. Desconfiança e preocupação caminham de mãos dadas na relação, enquanto ambos procuram entender a razão pela qual estão tão sintonizados. Thomas entende o princípio deste sentimento, afinal, ele foi até Anat. Mas a mulher, por sua vez, vai enxergando o elo existente aos poucos, ao mesmo tempo em que lida com a dificuldade da religião (ou a falta dela) no seu dia a dia.
Se por alguns momentos a narrativa parece ir a lugar algum por conta do mistério envolvido entre Anat e Thomas, ao mesmo tempo pode se notar um singelo detalhe ligado aos dois: eles também não sabem para onde ir e nem o que fazer com base na perda de Oren. Intrínseca ao medo está a curiosidade pelo novo – e isto é muito bem trabalhado pelo diretor através do silêncio e do inesperado paralelo que é traçado entre a comida e esta relação: ambas são trabalhadas com a ausência de palavras e saboreadas com a mesma intensidade.
O ritmo do longa é majoritariamente lento (mas não menos marcante) devido a escolha do diretor em manter a câmera estática, sempre disposta a nos fazer sentir parte daquele mundo singular. Deste modo, o filme também entrega uma gama de sensações intensa, ao mesmo tempo que agradável – mesmo sabendo que o que une os personagens principais é, na verdade, uma tragédia. Porém, por mais que a perda de Oren seja o agente catalisador de toda a trama, o que a move é ainda mais provocativo, pois Anat entende que não é por acaso que seu destino se uniu ao de Thomas e, assim, sua busca por respostas é tão importante quanto a dependência do jovem pelo passado.
O Confeiteiro nada mais é que uma história apresentada nas entrelinhas, com uma minuciosidade tão distribuída quanto os toques finais de Thomas em seus doces refinados. É preciso olhar com atenção a tudo que o filme mostra e, também, ao pouco que é dito. Mesmo que haja deduções sem um embasamento mais hábil para sanar alguma questão ou outra, nada impede que o espectador entenda as motivações de Thomas e Anat, por mais tortuosos que sejam seus caminhos.