Obsessão inquietante
por Lucas SalgadoA Professora do Jardim de Infância é um interessante drama israelense lançado em 2014, que circulou por festivais, mas que nem chegou a ser lançado comercialmente no Brasil, embora tenha sido premiado no Janela Internacional de Cinema do Recife. Agora, quatro anos depois, o filme ganha uma refilmagem hollywoodiana.
Exibido no Festival de Toronto 2018, The Kindergarten Teacher é um remake bem convencional da obra dirigida por Nadav Lapid. Esperava-se que o olhar de uma mulher (a diretora Sara Colangelo) viesse a oferecer uma nova perspectiva ou mais ousadia, mas não é o que se vê em cena. Quem desconhece o original, irá se envolver com a produção. Mas quem já viu, estará diante de uma sensação de déjà vu.
Lisa Spinelli (Maggie Gyllenhaal) é uma professora de jardim de infância muito dedicada, mas que sente que falta algo em sua vida. Ela busca um novo olhar ao fazer aulas de poesia. Determinado dia, ela descobre que um de seus alunos, um garoto de cinco anos, é capaz de fazer belas poesias. Lisa, então, decide acolher o garoto sob suas asas, mas aos poucos vai desenvolvendo uma relação possessiva e de muita estranheza.
Estranheza talvez seja a palavra que define o filme. E que o faz interessante por todos os seus 96 minutos. Há uma sensação permanente de inquietude. O espectador é jogado diante de uma relação pra lá de não-natural e o filme vai testando os limites ao máximo. Ainda que de natureza não sexual, a obsessão por uma criança é algo desconcertante. E o filme transmite isso de forma eficiente.
Maggie Gyllenhaal está ótima no papel da professora obcecada, mas o roteiro de Colangelo não parece sempre saber lidar com a situação, muitas vezes tratando a relação com ironia, oferecendo quase que alívios cômicos.
Gael García Bernal vive o professor de poesia de Lisa, mas quem se destaca mesmo é o jovem Parker Sevak, que interpreta o aluno de cinco anos, Jimmy. É curiosa a forma como ele desenvolve sua relação com a professora. Há um misto de gostar da atenção e estranhar todo aquele foco.
Despertando interesse, mas sem nunca de fato cativar, o filme é como os poemas de Lisa, tecnicamente bem composto, mas sem alma.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018.